A atual concepção de presente é de uma estagnação entorpecida, na qual boiamos anestesiados, impedindo a consciência sobre um vazio de sentido. Vê-se uma permanente emergência que parece reger a sociedade com uma avalanche de informação, onde a impaciência surge por falta de foco. A sensação de overdose é inevitável, levando-nos várias vezes a refletir sobre se, de fato, nessa lógica de ansiedade e excesso, estamos realmente envolvidos em processos de comunicação.
Há uma espécie de entorpecimento e de insensibilidade de um falso presente, que aprofunda o processo de mediocrização da vida. Pesquisadores indicam que a patologia da contemporaneidade é de ordem temporal, dada a vivência totalizante do aqui e do agora que dificultaria a valoração do passado e a projeção do futuro. Ao assumirmos múltiplos papéis (característica do multivíduo cunhado pelo antropólogo italiano Cavenacci), com forte auxílio das novas tecnologias que dão sensação de onipresença, estamos multiplicando o tempo e o espaço, embora nem sempre claros à serviço do que. “Onde não há futuro, isto é, onde não há aquele realizar-se do passado, ali não há esperança. Por isso, a civilização dos que não tem identidade, aquela identidade que se realiza no homem entre o passado e o futuro, a civilização da atualidade e da produção, constrói o mundo da dúvida e do desespero”, disse sabiamente Grygiel.
Neste sentido, obra mais recente de Castells analisa as mudanças relativas ao conceito de tempo. O tempo biológico é definido por uma sequência programada de ciclos vitais da natureza, e o tempo social é modelado ao longo da história, no que ele denomina de tempo burocrático – a organização do tempo nas instituições e na vida cotidiana. Já a partir da era industrial, o pesquisador identifica o tempo do relógio ou, remetendo à tradição foucaultiana, o tempo disciplinativo, que busca atribuir tarefas e ordens a cada momento da vida. Mas isto tudo seria abalado na chamada “sociedade em rede”, quando a relação com o tempo vem definida pelo uso de tecnologias da informação e da comunicação em um incessante esforço para aniquilar o tempo negando sua sequenciação. É o que comenta Safra ao dizer que “o homem se encontra na fragilidade do entre: entre o dito e o indizível, entre o desvelar e o ocultar, entre o singular e o múltiplo, entre o encontro e a solidão, entre o claro e o escuro, entre o finito e o infinito, entre o viver e o morrer”.
O ressurgimento da contação de histórias como reação à tecnologia, ao consumismo, ao imediatismo e à superficialidade e descartabilidade das relações. E é este raciocínio que tenho tentado encadear em minha dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (com bolsa CNPq e sob orientação do professor Paulo Nassar), já encaminhando-se para seu final. A ideia é postular o storytelling como um recurso legítimo de atratividade de narrativa e de pulverização da voz nas organizações, e também como uma nova maneira de contar a história das interações em ambiente de trabalho.
Discursos rasos vão dizer que não podemos ser “somente” contadores de histórias. Ou que precisamos “ir além do mero discurso”. Bem, para discutir isto teríamos que ler mais Habermas, Charadeau e outros autores sobre o falar como agir. O que interessa aqui é abrir os horizontes da comunicação organizacional baseada em canais para pensar a sociedade com a complexidade do hoje. Quais são as suas histórias?