Desde a Carta de Atibaia (que se você não leu eu recomendo muito que o faça), datada de 1997, discute-se recorrentemente a flexibilização (modernização, atualização, abertura, seja lá apalavra que quiser usar) da nossa Relações Públicas.
Ultimamente o debate ganhou mais força. Mais pessoas passaram a defender seus lados (pró ou contra) e isso é bom pois aumentou o debate, mas inflelizmente, não necessariamente melhorou a qualidade dele. Bem, aqui não vamos passar pelo que é discutido. Posso adiantar que não vamos ver o fim desse tema em 2015.
O que quero fazer hoje aqui é refletir sobre a nossa história, a história do surgimento das RP para que isso possa nos ajudar a refletir sobre a flexibilização.
Como sabemos, Ivy Lee, um americano nascido em 1877, é considerado o pai das RP no mundo. Um pouco depois dele, também disputando a paternidade, tivemos Edward Bernays, austro-húngaro nascido em 1891.
No Brasil o título de “Pai das Relações Públicas” fica com Eduardo Pinheiro Lobo, nascido em 2 de dezembro de 1876. É em função do aniversário dele que comemoramos o Dia Nacional das Relações Públicas em 2/12.
Mas as datas de nascimento desses três camaradas aí em cima pouco importam para o título do texto. O que vale MESMO é a formação que os três tiveram. Formação que hoje discutimos e debatemos como critério para definir se alguém é ou não RP.
Ivy Lee, por exemplo, graduou-se em 1898 em Economia pela Universidade de Princetown. Sim, Ivy Lee era, portanto, ECONOMISTA!
Edward Bernays graduou-se em 1912 pela Universidade de Cornell em Agronomia. Sim, ele era AGRÔNOMO!
Já Eduardo Pinheiro Lobo, graduou-se em Engenharia e, portanto, era ENGENHEIRO!
Pois, vejam só, os três caras que foram os precursores de nossa profissão no Brasil e no mundo, não eram formados em RP! E ai você deve estar pensando:
“Mas claro, Pedro, como é que eles iam ser graduados em RP se eles “inventaram” as Relações Públicas”.
E eu digo:
Muito bem, portanto, uma vez que três caras formados em áreas distintas, que dedicaram tempo e conhecimento a entender as relações entre pessoas e empresas, foram responsáveis pela “criação” das Relações Públicas, por que é que alguém que se gradue hoje, em uma área diferente das RP, mas que dedique tempo e conhecimento (assim como os nossos três amigos ali de trás), para entender as relações entre pessoas e empresas, não pode ser um Relações Públicas?
Conforme adiantei aqui, não deveremos ver em 2015 este tema sendo posto em votação. Vale, porém, refletirmos sobre a nossa história (indo mais além do que simplesmente quem “inventou” as RP), o nosso desenvolvimento e o que é SER RP!
Assim como a Ariane, eu também acredito que as Relações Públicas estão muito além do que uma função.
Somos uma mentalidade, uma forma de pensar, organizar e estruturar estratégias de otimização de relações entre empresas e pessoas e vice-versa. Somos profissionais estratégicos, que estão em constante mudança. Fazemos parte de uma área que é mutante, que precisa se atualizar constantemente e, portanto, quem acompanha esses movimentos e atualizações está além do que simplesmente deter um certificado.
Precisamos mostrar que somos capazes, que somos estratégicos, que somos essenciais para as empresas. Criar um “clubinho” não vai nos garantir isso. O que vai fazer a diferença é resultado e quem souber entregar resultados da melhor forma possível.
Voltaire também não era advogado quando disse "Posso não concordar com uma palavra do que diz, mas defenderei até a morte seu direito de dize-las" e mesmo assim é o pai do que hoje se entende por Direito, nem por isso qualquer um que compreenda a essencia de suas palavras e que dedique tempo e esforço a conhecer a lei poderá advogar, até porque quando compreendemos a essencia do direito, da burocracia e da organização social sabemos que existem regras e regulamentos que regem nossa sociedade em torno de transformar do caos à ordem. Se um Engenheiro, Agronomo ou Economista perceber a importancia das relações entre pessoas, fisicas ou juridicas, muito bom para ele, pois esse conhecimento é essencial a qualquer profisisonal, de qualquer empresa, em qualquer lugar do mundo, e não só a profissionais, mas aos seres humanos também! Assim como é importante para um Engenheiro, Agronomo ou Economista saber que existem regras, leis, que os impedem de fazer o que quiserem, afinal eles sabem muito bem disso já que em todos esses três casos exige-se um registro profisisonal para o exercício da profissão…
Bom em relação ao seu texto Pedro, em alguns pontos eu concordo,um deles é que precisamos mostrar o nosso diferencial, competência. Até por que um RP pensa diferente, usa estratégias para estreitar diversos tipos de relacionamentos com os públicos de interesse da organização.Todavia não acho que um profissional de outra área seja tão capaz quanto nós RPs formados, em construir um bom diagnóstico de comunicação e depois um bom planejamento e sabe por quê?
Por que ser RP tem que estudar e muito, tem que fazer graduação, pós e cursos a parte. Por esses e outros motivos, sou contra a flexibilização. Bom eu acredito que ainda teremos muitas discussões a respeito disso.
Tentarei ir a reuniões no sidicato e no conselho para entender os dois lados.
Nem preciso dizer que sou totalmente a favor do seu texto e que partilho do seu posicionamento, né? Reserva de mercado e corporativismo não vão nos levar a lugar nenhum! 🙂
Amigo Pedro, parabéns pela postagem. … Como comentar é o objetivo aqui, considero equivocado um profissional de RP graduado propor ou apoiar a flexibilização. Embora com indiscutível teor literário, seu post não traz exemplos de profissões que se "abriram" e continuaram bem reconhecidas na sociedade. Na minha opinião não há profissão sem um campo de trabalho e atribuições protegidas por lei. … Aliás, na minha opinião não, é assim. Alguém tente exercer a medicina ou o direito ou a odontologia, ou a agronomia, ou mesmo o serviço social. … Por mais talento que possa ter adquirido nessas áreas, só poderá exercer mediante curso universitário. É assim que tem que ser com as RPs. Quem tentar poderá inclusive ser preso. Ainda vale dizer que outras tantas profissões, como Design por exemplo, corre no Senado Federal para regulamentar e "fechar" a profissão e suas atribuições. É justamente o que temos desde 1967 e a flexibilização almeja findar. É uma corrida na contramão, incompreensível na minha opinião. … Quanto aos bons exemplos trazidos, toda profissão quando começa inicia-se com os provisionados. É óbvio que, antes de existir o curso de graduação em medicina, os primeiros professores e médicos que atuavam eram de outras áreas, não eram médicos graduados, já que não existia o curso. Abraços e parabéns pelo grande trabalho. A frase do filósofo Voltaire cabe bem neste meu comentário. Cumprimentos.
Pois é, sei que esse post é antigo, mas ele acabou entrando agora em minha caixa por alguma razão desconhecida e não consegui deixar de comentá-lo. E dando sequência ao estilo literário, entendo que "o pior cego é aquele que não quer enxergar". O conservadorismo já enterrou muita gente boa que ficaram para a história como quem lutou bravamente por uma causa, mas não a venceu.
Sim, estamos vivendo a Era das Relações Públicas, mas a era da atividade, não da profissão, que já acabou faz tempo e os conservadores da área ainda não se deram conta. A flexibilização era a ponte, uma preparação para fortalecer e solidificar a chegada da mudança no Congresso e fazer a atualização da Lei Federal. Agora, o tempo e a hora já passaram, acabou. Os profissionais de relações públicas perderam a oportunidade de se manterem firmes no comando do processo. Agora, os profissionais têm que se preparar, se capacitar, além da formação, para competirem em igualdade de condições no mercado.
Acabou, a profissão foi um casulo inadvertidamente (ou advertidamente) pisado pelos próprios profissionais. Vamos pensar em capacitação profissional e não em formação. Esse é o novo desafio da área de Relações Públicas. Parabéns Pedro. Abraço