Ana Manssour é colaboradora aqui do Blog RP desde que ele começou. Mas hoje resolvemos trazê-la como entrevistada: gaúcha,profissional de RP e mestre em Administração, foi professora em cursos de graduação de Administração, Relações Públicas e Jornalismo, e mora em São Bernardo do Campo há 12 anos. E foi em terras paulistas que criou o seu projeto-causa, chamado Verbo Mulher.
Com o lançamento do novo site do projeto, Ana nos contou um pouco mais sobre a causa, seu propósito e sobre como as Relações Públicas auxiliam na execução e desenvolvimento do seu trabalho.
O Verbo Mulher começou como um projeto para mulheres, com o intuito de impulsionar o seu desenvolvimento no âmbito profissional e pessoal e alcançarem o máximo de seu potencial realizador.
Alguns fatores de sua vida pessoal e de sua experiência particular como mulher inspiraram Ana a dar início ao projeto. Mãe de quatro mulheres, avó de uma mulher, casada com um homem à frente do seu tempo “que tem sido um mestre ‘destruidor’ do conceito machista”, aliada à vivência profissional em diferentes ambientes empresariais, deram a base para começar o Verbo Mulher.
“O inicio do trabalho foi incitado pelo fato de, diariamente, enxergarmos jovens mulheres e meninas repetindo, sem nem mesmo pensar, uma cultura claramente limitadora para a mulher.”
1. Como surgiu o Verbo Mulher e como as Relações Públicas se relacionam com esse projeto?
Ana: Tenho acompanhado de perto alunas de graduação e pós graduação, colegas, amigas que continuam vivendo situações de limitação feminina na vida profissional e pessoal, e também me preocupo com o que será do futuro delas, das minhas filhas e de quem mais vier por meio delas. Acredito fortemente que se as mulheres se reconectarem com sua essência, com suas habilidades e características intelectuais, poderão interferir de maneira muito positiva na transformação da sociedade e do planeta para um lugar melhor para todos viverem.
As Relações Públicas estão no começo meio e fim do projeto. A base do Verbo Mulher é o relacionamento sustentável entre as mulheres, ou seja, o estabelecimento de relações verdadeiras e mutuamente vantajosas em vários níveis, de maneira que as partes mantenham umas às outras mesmo quando atravessando períodos de crise.
Para o desenvolvimento de todo o projeto, as técnicas e ferramentas de Relações Públicas, e principalmente a vivência de mais de 30 anos em ambientes corporativos, como empregada e como consultora, e em ambientes universitários, são que me permitem desenvolver o trabalho que vem crescendo de maneira orgânica, com uma seriedade e profissionalismo que vêm angariando confiabilidade e os mais variados apoios ao longo de pouco mais de um ano.
2. A nossa profissão é composta em grande parte por mulheres. Isso nos faz mais preparadas para encarar este momento de diversidade que vivemos?
Ana: Hoje já existe um equilíbrio maior de homens e mulheres nas nossa profissão. Quando comecei, uma turma de 50 alunos dava-se por rica em diversidade se contasse com dois representantes do gênero masculino! Mas, voltando aos dias de hoje, acredito que as mulheres geralmente tendem a serem menos resistentes a quebrar os tabus e preconceitos relacionados à diversidade, por uma característica de acolhimento bastante comum no sexo feminino.
Visto por esse ângulo, sim, acredito que as Relações Públicas exercidas pelas mulheres tendem a estar mais preparadas para trabalhar este momento de diversidade. Entretanto, noto que em grande parte – para não dizer a maioria, uma vez que não tenho números – as mulheres ainda cumprem em sua vida pessoal atividades, ritos e comportamentos típicos da sociedade machista em que os “cuidados domésticos e familiares” ainda são dever prioritário das mulheres e, talvez o mais impressionante, acham que realmente é normal e natural que o façam, e ainda preferem fazê-lo do que ensinar, pedir, orientar os homens (irmãos, filhos, maridos, pais) a fazê-lo.
3. O que falta para as mulheres serem mais bem sucedidas no empreendedorismo?
Ana: No meu entendimento, o maior desafio é não pensar nem agir como os homens agem e têm agido ao longo dos séculos no mundo dos negócios. Ainda que o “jeito masculino” tenha nos trazido para um mundo de progresso tecnológico, para chegarmos aqui deixamos o planeta em estado terminal, reduzimos alarmantemente a qualidade de vida de bilhões de pessoas e não resolvemos a fome dos outros bilhões.
Passamos a não mais educar as novas gerações para a vida em sociedade, criamos um grau de consumismo assustador que deformou nas pessoas a noção do verdadeiro valor das coisas, tornamo-nos gladiadores permanentes na arena em que o trabalho se tornou e onde o objetivo é vencer o oponente a qualquer preço para angariar fama e sucesso financeiro.
Desde um passado distante em que ainda morávamos em cavernas, em pequenos grupos ou tribos, as mulheres têm o valor intrínseco da solidariedade e do trabalho em equipe, de divisão de tarefas e de ajuda mútua pelo bem de todos – o que vem sido chamado de espírito de sororidade. Na minha opinião, resgatar esse valor, fortalecê-lo e colocá-lo em ação é a “chave do segredo” para que as mulheres tornem-se grandes empresárias e empreendedoras de sucesso.
4. Quais os projetos e enfoques do verbo mulher?
Ana: Até agora, realizamos 12 encontros no ABC Paulista, um em São Paulo, e agora em Porto Alegre. Pretendemos continuar realizando os encontros periódicos em que trazemos assuntos variados de desenvolvimento profissional e pessoal. Nesses encontros trazemos diferentes palestrantes para temas voltados diretamente a atividades profissionais, bem como quem vem contribuir com abordagens que permitem autoanálise e reavaliação de conceitos comportamentais e culturais.
Também trazemos mulheres – às vezes algumas que já fazem parte das “Mulheres do Verbo Mulher” – que vêm contar suas histórias de fracasso, superação e sucesso, tanto na vida pessoal quanto profissional. É uma maneira de nos vermos nas outras e entendermos que não estamos sós, que nossas dores, medos e amores são muito parecidos, que fazem parte da caminhada de cada uma, mas que podemos encontrar apoio umas nas outras.
Também estamos fechando parcerias para trazer cursos e workshops em diferentes áreas de desenvolvimento técnico e comportamental, bem como para oferecer consultorias, mentorias, e outros serviços úteis para empreendedoras que participam do Verbo Mulher.
Desde o começo deste ano, também, fazemos palestras sob demanda, e desde julho estamos atuando desenvolvendo projetos para o empoderamento das mulheres e equidade de gênero dentro das empresas. E temos planos de começar a atuar com uma ONG da nossa região também.
5. Vocês trabalham com voluntários? Como as pessoas interessadas podem ajudar vocês a seguir com essa causa?
Ana: Até agora, temos contado com algumas das mulheres que participam dos encontros periódicos, e que chamamos de “Mulheres do verbo Mulher”. Mas, como todas trabalham em seus próprios negócios e têm pouco tempo para disponibilizar, sempre precisamos de mãos e mentes para nos ajudar. Hoje, temos necessidade de pessoas que colaborem com design para elaboração dos convites para os encontros que são enviados por e-mail marketing, posts para Instagram, Facebook, etc, bem como um planejamento e gestão de conteúdo – porque está ficando cada vez mais difícil dar conta de tudo.
O apoio na divulgação também é importante, marcando amigas e compartilhando posts. Conforme for possível, gostaríamos de levar os encontros a mais cidades para podermos tocar e motivar mais mulheres. Às vezes ela só precisam do “estalo”! Mas ainda não temos verba própria para bancar esse sonho, e cobramos um valor simbólico para as inscrições que cobre apenas o básico dos nossos custos de elaboração de material e o coffee que faz parte da dinâmica de networking. Então todos os apoios, como cessão de local com estrutura para realização dos encontros, divulgação nos mailings e com respectivas redes sociais, entre outros, são muito bem vindos.
Saiba mais sobre o Verbo Mulher aqui no site e acompanhe essa causa que vem mudando a vida de tantas mulheres.