Quer você entenda, quer não, o Snapchat está revolucionando a forma como nos comunicamos. Mesmo que você não faça parte desta rede, ela vai impactar na sua vida e não tardará.
Isso não tem nada a ver com a realidade efêmera que ele corporizou, já que não é de agora que nossas mensagens duram pouco tempo — o tempo de vida de um post na timeline do Facebook é de poucas horas. A diferença é que nesta nova rede as fotos desaparecem em 24h. Mas este ponto não é nem de longe o mais interessante de debater.
Os pontos que têm me feito refletir muito sobre o Snap (para os íntimos) são dois: a quebra da linearidade do navegar e a presença da realidade aumentada.
Quebra de linearidade: o fim do paradigma 1.0 das redes sociais.
A questão da quebra da linearidade no Snapchat está diretamente ligada ao fato de que hoje é possível explorar o mundo em qualquer direção. Ouve-se aos 4 ventos que podemos viver e trabalhar de onde quisermos. Por que diabos só podíamos ir para cima e para baixo OU para a direita e esquerda ao navegar na internet?
O snapchat encerra a linearidade nas redes sociais e dá lugar a um mundo que caminha rumo à multilinearidade. Mais uma prova de que a comunicação não é on ou offline, mas all line. Dizer que o Instagram está “copiando” o Snapchat, ao implantar o Stories, é quase uma heresia: atrasadas serão aquelas redes que não seguirem este novo padrão!
Realidade aumentada: a Disney no dia-a-dia.
Não faltam exemplos de ações de marketing tentando trazer novas realidades para a vida cotidiana. E há até mesmo questionamentos como: a realidade aumentada se tornará a nova realidade? Ficção científica à parte, o Snapchat permite fantasiar, idealizar e se expor numa “ofegante epidemia”, num paralelo ao carnaval, na vida diária.
Sempre fomos um pouco homo ludens, “o homem que brinca”, mas a convergência de gamificação, tecnologia e a quebra de linearidade nos leva ainda mais para o universo lúdico. Viver, trabalhar e brincar: tudo é sinônimo de jogar.
O Pokémon Go, que está chegando ao Brasil, tem provocado um frenesí generalizado no ato de brincar. Ele é exacerbação da realidade aumentada, em um planeta que já viu até pessoas irem parar na fogueira por “ver fantasmas” – e agora tem a aprovação massiva para encontra Pokémons pelas ruas das cidades, ou mesmo dentro de casa.
A revolução semiótica
Alguns vão dizer que tudo isso, todas essas transformações, são na verdade uma patologia coletiva; difícil julgar. O fato é que a humanidade não evolui para trás e retrocessos no modo de pensar são inerentes ao ser humano.
Se até aqui tudo era interpretável graças a uma infinidade de códigos locais (jornal, revista, TV, etc), atualmente essas interpretações passam por um pequeno conjunto de códigos globais: as redes sociais são um exemplo. E os processos que elas inauguram, como a quebra da linearidade, formam, além de códigos, um novo campo semântico: um conjunto de elementos, linguísticos ou não, unidos pelo sentido.
A semiótica baseia-se na ideia de que sistemas não linguísticos que participam da vida social poderão constituir campos semânticos. Então, alguma dúvida de que vivemos uma revolução semiótica?
A nós, profissionais de comunicação, cabe mediar e trabalhar as mudanças que tudo isso traz. Não temos como exercer esse papel sem entender criticamente e até mergulhar nas tecnologias. Por isso, se você ainda não usou o Snapchat e o Pokémon Go – e agora, o Instagram Stories, experimente.
Esse texto foi originalmente publicado aqui.