Não sei se você já viu, mas anda rolando pelo WhatsApp e Facebook uma mensagem dizendo para “não sentirmos raiva pelos políticos que caem, mas gratidão pela limpeza ética que está acontecendo”. Achei a mensagem interessante e me ajudou a reunir mentalmente (e por escrito) o que venho sentindo e pensando sobre tudo isso.
Não tive raiva em momento algum. Pelo contrário, nunca estive tão feliz por estarem vindo à tona todas as sem-vergonhices que acontecem neste país desde os tempos do império (e antes). Tenho certeza que o que está acontecendo é pelo melhor. Embora haja muita maracutaia envolvida, acusações, denúncias e grampos feitos de um lado para prejudicar o outro, o que para mim fica claro é que que todos os lados estão ficando com as sujeiras à mostra, e isso é ótimo para todos nós.
“PORÉM, o que realmente me incomoda, é ver as pessoas em geral, trabalhadores ou não, da nossa geração, mais velhos, mais novos, jovens e crianças, que continuam com a mentalidade pequena. Querem ter/ganhar muito dinheiro com pouco ou nenhum esforço, consumir muito, TER, mais do que SER, não se importam de prejudicar os outros desde que eles próprios e seus “amados” (pais, irmãos, filhos) tenham uma vida folgada, também com muito dinheiro e pouco esforço, e com aposentadoria no menor prazo possível no maior teto imaginável.”
São essas pessoas, entre as quais nos encontramos, que fazem parte das nossas vidas e do nosso dia-a-dia, que elegeram todos os corruptos e corruptores, que ajudaram suas empresas a corromperem, que levam para casa material da empresa para uso pessoal, que fazem corpo mole no trabalho e depois reclamam da baixa participação nos lucros, que arrumam atestado médico para emendar em feriados, que preveem um bom ano pelo número de feriadões que haverá em vez de ser pelos dias úteis, de reconstrução da economia deficitária de todos os segmentos do mercado.
São essas pessoas que estacionam em vagas de idosos, gestantes, deficientes e saem caminhando naturalmente sem nem olhar para trás ou para o lado, como se estivesse tudo certo. São pessoas que estacionam na contramão, em cima das calçadas, que “esticam” as grades das suas garagens por cima dos passeios públicos, sem se importarem com a redução de espaço para os pedestres transitarem.
São pessoas que moram em ladeiras e que ao construírem suas casas ou reformarem os acessos aos portões de casa ou das garagens, fazem degraus entre uma casa e outra – às vezes intransponíveis até por cães – em vez de rampas que facilitem o deslocamento de adultos, crianças ou idosos, com ou sem carrinhos de bebê, de muletas ou cadeiras de roda, para não terem um gasto a mais ao mandarem fazer os portões de ferro que não serão “retos embaixo” – e as prefeituras não se importam(!).
Uma amiga outro dia relatou o que ouviu na escola do filho de uma menina de 7 ou 8 anos. A menina disse que queria ser advogada como a dinda dela, que ganha muito dinheiro e quase não trabalha. Essa é a geração na qual estamos depositando nossas esperanças? Que nasceram limpos, inocentes, e que são criados sem discussões, com amor e carinho, sem serem punidos pelas faltas que cometem? Pode até ser, podem ter nascido puros, mas estão sendo corrompidos pelos pais, tios, avós, familiares e amigos – por nós.
E não estou dizendo isso com raiva, não. Só estou constatando e procurando demonstrar que o trabalho que temos pela frente é muito, muito maior, mais profundo e mais amplo do que andam comentando pelas redes sociais, blogs e canais de televisão e rádio, pois pensam que se restringe só à classe política. É um trabalho que precisa ser inserido dentro de casa, nas famílias, nas escolas, nas universidades, nas empresas, nas igrejas, em todo tipo de grupo social humano. E não estou falando de passeatas, paralizações, greves, manifestações na rua, discussões no Facebook – e muito menos de vandalismo e violência.
“Estou falando dessa coisa que tanta gente parece não gostar: TRABALHO.”
E, sinto muito, mas só rezar (ou orar, como é mais elegante dizer), não adianta. Temos que arregaçar as mangas e nos dedicarmos, porque milagres não existem. Existe fé no que é certo, fé que há mais pessoas levando tudo isso a sério, fé que não estamos sozinhos nessa empreitada, e, acima de tudo, existe “pegar junto”, fazer acontecer. Quem não faz, não leva (e isso é justo!), e não adianta reclamar dos outros, porque se o outro não faz provavelmente é porque não tem em quem ou com quem se inspirar.
Você é capaz de inspirar outras pessoas a seguirem junto neste caminho de reconstrução dos valores morais da nossa sociedade? O que você está, de fato, fazendo para isso no seu trabalho, no seu negócio e na sua vida?