A primeira vez é sempre mais difícil, talvez por isso eu tenha demorado tanto para começar este primeiro artigo. Mas creio que a base dele está justamente na tentativa de explicar qual a minha missão nesta coluna, uma vez que não há como falarmos de Relações Públicas hoje, se não levarmos em consideração o ontem. Espero não desapontar ninguém!
Hoje, no começo da segunda década do 21º século, que equivale a um centésimo de milênio (ou seja, um piscar de olhos na história do planeta e da humanidade), vivemos um momento de evolução tecnológica fantástica, propiciada pela energia elétrica, pelos equipamentos de comunicação portáteis e pela internet. Nunca houve facilidade e rapidez tão grandes de comunicação, especialmente no que se refere à disponibilidade de meios e canais de informação ao alcance de muitos e ao mesmo tempo.
Em função disso, há uma espécie de frenesi, quase uma obrigação de todos utilizarem as mídias e redes sociais como forma de comunicação, seja feita por profissionais da comunicação para atividades de trabalho, seja feita pelos indivíduos de maneira independente. Ainda assim, volta e meia relembro – ou fatos me forçam a pensar a respeito – que a internet e a tecnologia contemporânea não são tudo, e que é essencial usá-las, mas com os pés e a consciência bem apoiados na realidade e no que de fato faz o alicerce da nossa área de conhecimento: comunicação e relacionamento.
Há pouco tempo conheci uma fábrica de médio porte que fica em uma pequena cidade de cerca de 11 mil habitantes no interior do estado de São Paulo. É uma empresa que vem crescendo e se desenvolvendo fortemente, tem grandes chances e boas perspectivas de tornar-se ainda maior e de mais sucesso, e para isso vem investindo fortemente em tecnologia para otimizar a produção, como sistemas e equipamentos de última geração no seu segmento. Entretanto, não está conseguindo estabelecer um relacionamento com os trabalhadores que garanta resultados positivos para ambos os lados.
Lá, as questões que precisam ser vistas estão justamente na base de tudo o que aprendemos e estudamos nas Relações Públicas desde o século passado. São pontos como identidade institucional, incluindo diretrizes organizacionais e autoimagem; comunicação interna desde informação até relacionamento interpessoal; e relações para estabelecimento de boa vontade com públicos externos estratégicos, como comunidade, concorrentes, entidades representativas de classe e governo. Internet? Sim, está disponível na cidade. Mas a empresa não tem domínio próprio, não tem site e os e-mails do pessoal administrativo são de provedores gratuitos populares, até porque, em função das peculiaridades da empresa, nem há mesmo uma necessidade premente.
É importante pararmos para ver que o principal e o que realmente importa continuam sendo o mesmo: relacionamento e comunicação, e que os meios e canais utilizados continuam sendo uma questão de escolha a partir das características situacionais e adequação aos objetivos.
”]Em um país do tamanho do nosso, ainda é grande o número de pessoas que não tem o acesso a Internet que muitos de nós temos, de banda larga e à disposição 24 horas por dia, inclusive pelos nossos smartphones. Além disso, das empresas brasileiras, 4.077.662 segundo o IBGE (2008), mais de 95,5% são micro ou pequenas empresas e 66,3% estão nas cidades do interior (Administradores, 2008) o que dá uma ideia do tamanho da demanda por um trabalho de relações públicas de “construção de base”.
E, apenas para fins de ilustração, porque vi hoje e achei que tinha relação com o nosso assunto, imaginem isso em termos mundiais e em um país como a China, ou como dizem “a verdadeira China”, cujas atividades laborais são primordialmente rurais e, portanto, no interior. A foto que ilustra este texto foi tirada agora, no início de junho, na cidade de Shikan, no sul do país, onde a economia gira em torno da agricultura local e a renda per capita é de cerca de 2600 yuan (+/- R$ 600). Trata-se de uma loja de calçados e em sua fachada, lê-se, nos três letreiros:
(1) 石坎皮鞋店 – loja de sapatos de couro Shikan;
(2) 信誉第一 – credibilidade em primeiro lugar;
(3) 质量三包 – garantia de qualidade ‘3 em 1’ (reparos, troca e devolução).
Mais do que publicidade, trata-se de relações públicas, pois é apresentação da própria identidade: o que fazem e com base em quais valores. Isso é Relações Públicas num lugar que nos parece estar no passado, mas que vive e trabalha no presente e pretende garantir o futuro. E você, em que tempo-espaço está?
IBGE. Estatística do Cadastro Central de Empresas 2008. Análise dos resultados. Acesso em 11-jun-2011.
Administradores.com. 64% dos empregos em micro e pequenas empresas estão no interior. 23-jul-2008. Acesso em 11-jun-2011.
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