por Bruna Maturana
Qual é a primeira coisa que vem a sua cabeça quando você ouve a palavra “lobby”? Se a resposta for: políticos corruptos, dinheiro na cueca, propina ou corrupção, esse post é para você.
O fato é que a atividade de lobby é muito mal vista pelos brasileiros, o que pode ser relacionado a falta de esclarecimento e clara definição do que é exatamente esta atividade. Quero, neste post, trazer pontos que ajudem a esclarecer estes pontos “obscuros”.
Vamos começar pela origem da palavra: “Lobby” vem do inglês e significa antessala, hall ou salão. Eram nestes espaços que, segundo historiadores, os agricultores e comerciantes do século XIX ficavam, na tentativa de abordar os parlamentares e conversar sobre seus pleitos, coletivos ou individuais.
Mas o que realmente significa lobby?
O lobby é nada mais do que um exercício da liberdade de expressão. Todos tem o direito de mostrar suas ideias e defender interesses legítimos, e a atividade de lobby consiste em defender interesses próprios, de uma empresa ou associação junto à representantes do Governo, de forma limpa. Lobby não é tráfico de influência ou corrupção ativa.
Para ficar mais fácil, vou dar um exemplo: quando estávamos enfrentando o processo de aprovação da lei anti-fumo que vigora hoje em espaços fechados em São Paulo, as empresas de tabaco tinham o direito de mostrar para o governo (Poder Executivo OU Legislativo) como essa lei poderia afetar o seu negócio. Os bares e restaurantes também. Afinal, a lei poderia reduzir o faturamento deles e isto reduziria a arrecadação de impostos que, por sua vez, afetaria diretamente o Governo. Ou seja, os parlamentares precisam ouvir todos os lados envolvidos antes de tomar uma decisão.
As empresas costumam fazer isso por meio de Associações, como por exemplo a ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e a APT (Associação dos Produtores de Tabaco). Este pleito é defendido pelas associações pois elas representam todo um segmento e não apenas uma ou outra empresa.
Representantes brasileiros e entidades brasileiras também fazem lobby no exterior. Podemos citar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que fez o seu lobby para que o Brasil fosse escolhido sede da Copa de 2014. A CBF mostrou para os representantes mundiais por que o Brasil deveria receber a Copa e quais seriam as vantagens de sediar o evento no nosso país. Como todos já sabem, funcionou bem.
Mas, se o lobby é uma atividade tão benigna, por que ainda é tão mal visto pela sociedade?
Podemos dizer que o grande problema desta imagem negativa do lobby é a falta de regulamentação para a atividade no Brasil e o seu mau uso pela imprensa.
Enquanto nos Estados Unidos o lobby é uma atividade considerada como parte do processo político (ser lobista é uma profissão reconhecida e a atividade é regulamentada por leis), aqui no Brasil a atividade parece estar longe disto. Existem projetos que defendem a regulamentação do lobby que estão parados há mais de 20 anos. Um deles é o do ex-senador Marco Maciel que dispõe sobre o registro de pessoas físicas ou jurídicas junto às Casas do Congresso Nacional, ou seja, regulamentaria a profissão do lobista e a atividade do lobby.
Há mais de dois anos a Controladoria-Geral da União (CGU) iniciou amplo debate sobre a necessidade de regulamentar a atividade. Em linhas gerais, a proposta da CGU parte do pressuposto de que a atividade de intermediação de interesses faz parte da democracia e pode ser legítima, desde que exercida nos termos da lei. Se não há lei, impera a confusão.
A discussão que proponho é: será que apenas a regulamentação seria suficiente para separar o lobby do tráfico de interesses? Apesar de serem coisas distintas, será que no país do “jeitinho brasileiro” essa regulamentação não abriria a oportunidade para os corruptos se intitularem como lobistas e praticarem ainda mais a corrupção diante dos nossos olhos, escondidos sob um crachá?
Eu acredito que, além de regulamentação e transparência na descrição do exercício da atividade de lobby é necessário estabelecer uma integração real e efetiva entre os órgãos de combate à corrupção para ampliar a transparência pública e fortalecer o trabalho dos órgãos de controle interno e externo. Sem um pleno combate a corrupção, a atividade de lobby continuará sendo mal vista e passará a ser utilizada para mascarar atividades ilícitas.
E vocês, o que pensam sobre lobby? Está aberta a temporada de discussões!
Bruuuu!
Finalmente o post saiu hein? Foi o parto mais demorado da história do blog! hahaha brincadeirinha! Valeu a pena esperar! Parabéns pelo texto! Adoorei! Contou, explicou e deu seu ponto de vista 😉
Bom, realmente a atividade de Lobby no Brasil e suuper mal vista e concordo plenamente com vc: enquanto não houver transparência e regulamentação, fica difícil mudar esta imagem.
Mas tmb acho que a imprensa poderia dar uma forcinha, usando a palavra em contextos positivos. Para os políticos e propina é lobby (ruim), mas para falar da CBF e a Copa foi uma "campanha" #ficadica 😉
É isso aí! Dada a minha opinião! 😀
Beijos!
Bruna Maturana o/
Posso afirmar que valeu a pena esperar 🙂
Escrever sobre este assunto é algo bem complicado, tem muitos detalhes, termos específicos e você soube apresentá-los de forma clara e objetiva. Para mim este texto explica muito bem e claramente o que é isto e, principalmente, sua diferença em relação ao tráfico de influência!
Vale ressaltar também que regulamentação (ou regulação) é diferente de censura ou uma Lei. Regular é definir as regras do jogo, o que pode e o que não pode. Algo que dê parâmetros para a atuação das pessoas em determinada atividade.
Tem um PL sobre Lobby que foi redistribuido na Câmara! Vamos ver se caminha e se, de uma vez por todas, a atividade terá sua legitimidade, legitimada!
Pedro Prochno
@prochno blogrp.todomundorp.com.br
A questão é, iria fazer alguma diferença regulamentar a profissão de lobista no Brasil? Um país que banaliza o "jeitinho brasileiro", as grandes desigualdades econômicas, sociais e de renda. A meu ver, em um país tão acostumado com corrupção e com a impunidade, regulamentar apenas atividade lobista nunca trará alguma dignidade na profissão.
Bruna,
Parabéns pelo texto!
Como um bom texto de comunicação, ele está claro, conciso e objetivo. Certamente, esse é um tema que rende uma excelente discussão.
Um abraço,
Alexandre Costa
@alexandre_amc
Bruna, teu texto ficou ótimo, pois conseguiste explicar a importância do lobby como uma atividade que serve para defender os interesses próprios – e legítimos -, citando exemplos bem próximos da nossa realidade.
O teu questionamento sobre a boa ou a má utilização dele, caso a atividade seja regulamentada, pode ser respondido por uma frase de Platão: "Pessoas boas não precisam de leis para dizer a elas como agir com responsabilidade, enquanto pessoas ruins encontrarão um modo de contornar as leis."
Abraços,
@alanabrinker
Muito bom seu texto e também o blog! Passarei a visitar o blog.
O grande problema é que o governo decidiu votar o projeto sobre lobby no meio ao escândalo da empresa do Palocci fazendo com que as pessoas concluam que Lobby é o mesmo que tráfico de influência.
O texto é singular, já o assunto, a meu ver, será eternamente polêmico.
O fato é que às vezes paramos para calcular outras futuras opiniões, sendo que a nossa já está clara: o governo brasileiro não passa credibilidade, tampouco confiança pela formação profissional de cada constituinte.
Na sala de aula, ouço constantemente que a essência de uma identidade plausível é uma imagem de reputação.
Adoro aprender mais sobre a extensão da minha profissão, mas a cada conhecimento retido percebo o quanto nosso sistema educacional ainda é falho e fraco. A começar pelo descaso e a desvalorização da escrita, como uma aceitação prévia da primeira deficiência que o indivíduo encontra na sua profissão. Talvez por isso vejo Relações Públicas como uma das atividades mais ricas e aprazíveis do contexto mercadológico, pela sua complexidade sim, e pela solidez com que é capaz de gerir órgãos individuais ou coletivos.
Se os políticos já têm seus porta-vozes, assessores de imprensa e outros comunicadores específicos, acho digno que conquistem o crédito dos Relações Públicas primeiramente, e somente a partir de então, começarem a alvejar posições mais audazes.
Sinceramente? Acho difícil terem atitude e assumirem essa postura. Sabe por quê? Porque ela requer tempo, equilíbrio, disciplina e competência. Não obstante, leva o nome do Brasil nas costas, tanto para os próprios cidadãos quanto para os estrangeiros.
Contudo, o nome é bonito: "lobby"! A definição também.