O conceito de comunicação traz a ideia de tornar comum, partilhar, comungar. Para haver o compartilhamento, os envolvidos inevitavelmente têm de estar em relação. Isso não significa, todavia, que suas percepções tenham que ser as mesmas ou haver concordância com o que fora enunciado. Mais ainda não significa que as partes em contato de fato estejam intercambiando informação transformada em conhecimento, com bom nível de atenção ou retenção de mensagens. É importante, para a comunicação nas e das organizações, encontrar uma sintonia com indivíduos e grupos de interação.
Na atualidade, a sintonia entre as organizações e os seus públicos significa afastar-se de um modelo de gestão da comunicação no qual a organização se coloca como um emissor autoritário de uma narrativa autoritária. Este tipo de gestão da comunicação peca por relacionar-se com os inúmeros públicos organizacionais de forma mecanicista, tal qual o apontador nas fábricas se comunica com os trabalhadores. É uma relação assentada em ordens, em uma visão autoritária e hierarquizada que vê pequenos acionistas, trabalhadores, comunidade, sindicatos, consumidores e jornalistas, entre outros, como platéia, que preferencialmente deve ‘aplaudir’, endossar tudo o que a empresa faz.
É neste ponto que pode entrar a história e a memória, como provedores de conteúdo interessante para as interfaces comunicacionais, dando visibilidade à mensagem oficial mesmo em tempos de diversidade de fontes emissoras.
Emergem simultaneamente na sociedade atores diversificados e comunicantes, com alta potencialidade de criação, estimulados por plataformas tecnológicas conectadas facilitadoras de trocas e difusões de posicionamento. São pessoas que apresentam um nível superior de exigência em termos de conteúdo e atratividade contextual, bem distantes da postura passiva imaginada até então – e supostamente adequada ao formato unidirecional broadcast vigente, amplamente praticado pela comunicação de massas. Hoje, com multiprotagonistas em interações mediadas ou incitadas pela tecnologia comunicacional, a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas acabam reconfiguradas para dar conta de expectativas mais elevadas em torno da transparência e da relevância das mensagens. Um centramento estratégico da narrativa, se localizado na memória organizacional como estimuladora de significados e geradora de pertencimentos, deve considerar a necessidade de recriação de formatos interativos como força atrativa diante da atenção pulverizada. Afinal, com o descentramento do sujeito corporativo, fica redobradamente difícil atingi-lo com mensagens, porque ele não é mais singular e estável, mas sim múltiplo e mutável de acordo com a situação que enfrenta. Conquistar sua atenção e sua palavra de recomendação se torna algo complexo.
Por isto, desenvolvemos um estudo para aproximar o mundo rígido das organizações à dimensão do simbólico, notadamente por meio de projetos de atualização da memória. Não é a objetividade total que garante legitimidade à abordagem, quanto menos a compreensão da audiência. O grande desafio, pois, é saber utilizar o lastro histórico não como acúmulo convencional de fatos, mas como encantamento do espírito e enriquecimento da experiência. A vivência e as percepções dos indivíduos no cenário organizacional precisam ser compreendidas a partir de processos de gestão e comunicação ligados à cultura da organização onde a produtividade não seja um aprisionamento. Afinal, a emoção, o sentimento de pertença e a inspiração fogem aos enquadramentos das planilhas e formulários e são sensações facilmente despertadas por projetos de memória de cunho participativo e dialógico.
Você acha que a missão do comunicador em ambiente organizacional deve estar centrada na elaboração/estabelecimento de canais de interface (mural, boletim, evento, intranet, reunião)? E como está a produção destes canais em termos de atratividade de linguagem? Ou será que emitiu, comunicou? Vamos aos comentários.
Bom dia Rodrigo,
Voce tem conhecimento de organizações da administração publica que esteja utilizando as narrativas no trato da memoria organizacional? ou mesmo empresas?
Grata,
Maria Eugenia de Athayde