Cidadania não é simplesmente ficar resmungando pelos cantos que se tem direitos. E, na minha opinião, só tem direito de ser cidadão quem faz por merecer! Quem fica sentado, esperando tudo “cair do céu” – ou vir do governo, das instituições, das empresas – não é um cidadão, é só um espectador.
Cidadão é aquele que assume, muito antes dos direitos, os deveres que tem consigo mesmo, com os vizinhos, com o bairro, com a cidade, com o estado, o país e o mundo. Cidadão é aquele que fica indignado quando vê um motorista ou passageiro abrir a janela do carro ou do ônibus e jogar um saco plástico na rua.
Cidadão é quem fica indignado quando vê a vizinha lavar a garagem e a calçada com mangueira, tirar o pó da grade do portão ou das janelas com os jatos d’água, e que fica de conversa com a outra vizinha enquanto a água segue jorrando. Que fica furioso quando vê (e respira) o óleo queimado de motores mal regulados de caminhões, ônibus e carros, que não estão nem aí com a agonia do meio ambiente.
Cidadão é quem se revolta com uma administração errada e mal feita, com um serviço público deficitário, com uma chefia hipócrita e antiética. É quem não engole os 5 milhões de reais gastos numa árvore de Natal que, ainda por cima, ficou horrenda. E não fica calado quando vê que as pessoas não respeitam os containers de seleção de lixo e misturam tudo.
É quem não se conforma com as ruas esburacadas e mal-remendadas que fazem com que carros e ônibus se desgastem em menos da metade do tempo normal, nem com os alagamentos que acontecem todos os anos, destroem patrimônio público e privado, ceifam vidas, e cujas causas são conhecidas mas o Estado não toma providências.
Cidadão é quem não se resigna ao ver uma mãe sem teto à sombra de uma pequena árvore num dia de calor insuportável, molhando os filhos pequenos com a água de uma garrafa PET para amenizar o calor – e as crianças chorando…
Mas, além de tudo isso, é cidadão quem não fica calado ou parado. É aquele que reclama, discute, telefona para os 0800, manda e-mails, denuncia para os jornais (mesmo quando os jornais não dão bola), difunde nas redes sociais, comenta com outros, procura fazer com que outros tomem consciência, explica, discursa, ensina, dá exemplo, mostra fotografias e vídeos, participa de grupos de reação, não se submete em silêncio, busca apoio legal, estimula outros a também reagirem, vai à luta!
E as Relações Públicas têm relação com isso? Sim, Relações Públicas têm a ver com conscientização, educação, cultura, comportamento, sustentabilidade, RELACIONAMENTOS. E quando se fala em relacionamentos, incluem-se aí as relações de cidadania, de pessoas e grupos de pessoas com órgãos governamentais, com empresas de todo tipo e de todos os setores, de funcionários com chefias e de chefias com funcionários, de organizações com comunidades.
As relações públicas têm a competência de saber ouvir e falar a linguagem de cada público e, desta forma, buscar a aproximação entre os interessados para que possam resolver questões insatisfatórias. É, entre tantas outras coisas, profissão mediadora entre o cidadão e o Estado, buscando aparar arestas, atender necessidades, harmonizar interesses e, também, educar ambos os lados prestando informações, promovendo campanhas de conscientização, nivelando conhecimento, estabelecendo diálogo.
Não estou dizendo que é fácil. Se fosse, não seria preciso um curso superior de quatro anos para aprender teorias e técnicas, nem muitos e muitos anos de prática para antecipar necessidades, saber o momento certo de agir, com quais recursos, quem são os contatos certos e como abordá-los. Sem falar que é preciso experiência e maturidade para saber lidar com diferentes tipos de pessoas, saber ser suave ou firme na forma de agir, conforme a circunstância.
O bom Relações Públicas, caro amigo, só estará “no ponto” muitos anos depois de ter tirado o diploma e ralado no mercado. E, principalmente, depois de ter aprendido, ele próprio, o que é ser cidadão. Não é preciso ser Relações Públicas para ser cidadão. Mas com certeza é fundamental ser cidadão para ser um bom Relações Públicas.
Quando você começar a enfrentar seus medos, a não mais aceitar “situações estabelecidas”, a reagir aos abusos de poder e às indignidades contra você ou contra os outros – mesmo que os bons resultados só venham a acontecer em longo prazo e que você saiba que talvez nem venha a usufruir deles, mas que outros usufruirão –, então você saberá que está “no ponto” de ser um excelente profissional de relações públicas.
Desejo cidadania a todos para que o nosso mundo venha a ser cada vez melhor!