Um assunto que está em pauta no exterior, mas que não tem sido discutido no Brasil – muito menos sob uma perspectiva de relações públicas – é a diplomacia do esporte. Além de ser um assunto interessantíssimo, que oferece mil possibilidades de pesquisa e trabalho para os RPs, o fato do Brasil sediar a Copa do Mundo da FIFA de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 só aumenta a relevância do tema.
A diplomacia parece uma realidade distante da maioria dos brasileiros, que não se dão conta das diversas possibilidades de atuação que a área oferece. Muitos pesquisadores concordam, entretanto, que a diplomacia pode ser feita por pessoas comuns, empresas e organizações não governamentais. Mais ainda, muitos concordam que o esporte vem sendo usado há décadas como ferramenta política e diplomática, assim como o turismo. Por serem usados no estabelecimento de laços entre diferentes pessoas, países e culturas, o esporte e o turismo são considerados importantes no meio diplomático.
No contexto da diplomacia, o esporte pode ser usado para:
- Demonstrar e legitimar a superioridade de um país e/ou sistema político;
- Aproximar pessoas, culturas, promover a paz e o entendimento entre os povos.
A Copa do Mundo da FIFA de 2010, na África do Sul, é um bom exemplo do uso diplomático do esporte. A Copa criou prestígio para a África do Sul, aproximou o país de outras nações africanas, atraiu investidores estrangeiros, gerou reconhecimento internacional e um sentimento de orgulho e pertencimento na população da região.

Após muito ler e refletir sobre o assunto, concluí que a diplomacia do esporte atua diretamente nas a) relações diplomáticas e políticas entre países e no b) estabelecimento de pontes entre diferentes culturas e povos. O esporte ainda favorece a c) construção e manutenção da imagem e reputação de um país, interna e externamente.
a) Relações diplomáticas e políticas entre países: Os Jogos Olímpicos são um dos mais citados exemplos do uso do esporte para fins diplomáticos. Durante a Guerra Fria, por exemplo, as Olimpíadas foram utilizadas frequentemente para demonstrar e legitimar a superioridade de diferentes sistemas políticos: comunismo e capitalismo. Neste mesmo período, para pressionar e influenciar a opinião pública alguns países utilizaram boicotes: os EUA boicotaram as Olimpíadas de Moscou e os soviéticos, por sua vez, recusam-se a disputar as Olimpíadas de Los Angeles.

b) Construindo pontes entre diferentes culturas e povos: A diplomacia e as relações públicas se confundem, pois utilizam muitas das mesmas ferramentas e, frequentemente, têm objetivos similares. A diplomacia do esporte não é diferente, através de seus representantes (líderes governistas, atletas, equipe técnica, jornalistas), os países promovem seus valores e estabelecem relacionamentos. Eventos esportivos podem facilitar a cooperação, aumentar o entendimento, diminuir os estereótipos e acabar com diferenças históricas entre diferentes países e culturas. A Índia e o Paquistão, por exemplo, promovem campeonatos de críquete como forma de diminuir as tensões políticas e culturais que existem entre os dois países.
c) Construção e manutenção da imagem e reputação de um país, interna e externamente: Graças à cobertura internacional da imprensa, hoje eventos esportivos são acompanhados por pessoas de todo o mundo. Ao sediar um evento esportivo ou enviar atletas para o exterior, um país pode ganhar prestígio e reconhecimento internacional, atrair investidores e desmistificar estereótipos. No entanto, ao ser escolhido como país sede de um evento, como a Copa do Mundo da FIFA, o país vira pauta na mídia internacional e, consequentemente, tem todas as suas mazelas exploradas pela imprensa, tais como: infraestrutura, injustiças, educação e insegurança. Porém, se bem aproveitados pelos profissionais de relações públicas, os desafios envolvidos na sede de megaeventos podem se tornar oportunidades. Logo, eventos esportivos podem ser usados para construir, manter ou destruir a imagem e reputação dos países e atletas envolvidos.
A diplomacia do esporte, portanto, é utilizada para melhorar o relacionamento entre países; derrubar barreiras históricas (culturais, econômicas, políticas); e legitimar sistemas políticos, econômicos, culturais e religiosos. O esporte também oferece possibilidades para construção e manutenção da imagem e reputação dos países e atletas envolvidos. Consequentemente, a diplomacia do esporte é um prato cheio para os profissionais de relações públicas, que podem atuar tanto no âmbito político como na construção de relacionamentos entre diferentes povos e culturas.
Karina Fensterseifer (@kakafenster) é Relações Públicas pela Universidade Feevale (RS), atualmente cursa mestrado em Relações Públicas na Quinnipiac University (EUA). Tem experiência em relações internacionais e muita vontade de atuar nesta área no futuro. Atuou como assistente e depois analista de relações internacionais na Universidade Feevale durante 5 anos. Durante 2011 e 2012 trabalhou esporadicamente para a empresa sueca Universum no estabelecimento de relacionamentos entre a empresa e universidades brasileiras. Atualmente desenvolve projetos de comunicação e relações públicas com a empresa americana Summit Global Education, que promove intercâmbio de estudantes estrangeiros para o Brasil.
Referência bibliográfica:
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Rein, I.; Shields, B. (2007). Place branding sports: Strategies for differentiating emerging, transitional, negatively viewed and newly industrialized nations. Place Branding and Public Diplomacy, 3(1),73-85.
Heere, B.; Kim, C.; Yoshida, M.; Nakamura, H.; Ogura, T.; Chung, K.; Lim, S. (2012). The Impact of World Cup 2002 on the Bilateral Relationship Between South Korea and Japan. Journal of Sport Management, 26, 127-142.
Kanin, D. B. (1980). The Olympic Boycott in Diplomatic Context. Journal of Sport and Social Issues, 4(1), 1-24.
Bah, muito legal. Realmente, os esportes envolvem demais as pessoas e eu sou um exemplo de pessoa que conheceu muitos países por causa da Copa do Mundo ou das Olimpíadas e/ou que simpatizou com tantos outros pelo mesmo motivo. Nunca tinha me dado conta, no entanto, da força que esses eventos exercem sobre as pessoas do mundo todo.
O esporte em geral é de fundamental importância mesmo nas relações diplomáticas.