No dia 30 de novembro, Pedro Prochno publicou um texto sobre relações governamentais intitulado GERANDO BUZZ EM “PUBLIC AFFAIRS”. Em síntese, o texto trata da atividade de relações governamentais (public affairs) e de como os profissionais da área utilizam o desenvolvimento de “buzz” como forma de influenciar ou chamar a atenção de governantes para determinado assunto.
O professional de public affairs sabe que para influenciar o poder público é necessário o apoio da opinião pública e, consequentemente, da imprensa. Por isso, o public affairs utiliza técnicas multidisciplinares, misturando lobby com relações públicas, assessoria de imprensa, publicidade. Public affairs é uma atividade comum nos Estados Unidos, mas ainda incipiente no Brasil.
Nos Estados Unidos, uma das principais estratégias utilizadas por profissionais da área é a formação de coligações, que dão um status de movimento popular (grassroots) às campanhas promovidas por esses profissionais. Frequentemente o resultado do trabalho do professional de public affairs é benéfico para uma determinada indústria, ou segmento, mas negativo para a população como um todo.
Manifestações do movimento de grassroot Occupy Wall Street
Fonte: http://www.salon.com/2011/09/29/at_occupy_wall_street/
Mais ainda, muitas coligações manipulam informações – técnica conhecida como “mentir com estatísticas” – para conseguir o apoio da população e, consequentemente, avançar seus interesses próprios junto ao governo. Coligações financiadas por grandes empresas que manipulam dados para conseguir apoio popular são chamadas nos Estados Unidos de front groups.
Além das coligações, esses grupos utilizam técnicas avançadas de relações públicas, assessoria de imprensa, lobby, relacionamento e financiamento de campanhas políticas para alcançar seus objetivos. Eles são tão organizados, bem relacionados e ricamente financiados que fica quase impossível para a população perceber os objetivos obscuros por trás desses movimentos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, coligações formadas por empresas do ramo da saúde (seguradoras, farmacêuticas) foram as responsáveis por garantir que reformas governistas na área da saúde pública não saíssem do papel. A população americana foi tão influenciada por campanhas milionárias que acabou apoiando a causa e travando mudanças necessárias nas políticas de saúde pública do país.
O lado negro do public affairs existe e não deve ser ignorado. No entanto, essa área de atuação pode e deve ser usada por grupos que defendem necessidades legítimas da população, como comentou Pedro Prochno no post GERANDO BUZZ EM “PUBLIC AFFAIRS”.
Referência: Potter, Wendell. Deadly Spin: An Insurance Company Insider Speaks Out on How Corporate PR Is Killing Health Care and Deceiving Americans. Bloomsbury Press, 2010.
Sobre a autora
Karina Fensterseifer, 26 anos.
Mestranda em Relações Públicas, pela Quinnipiac University (Hamden, CT, Estados Unidos)
Bacharel em Relações Públicas, pela Universidade Feevale (Novo Hamburgo, RS)
Perfil profissional: Relações Públicas pela Universidade Feevale, RS, atualmente cursa mestrado em Relações Públicas na Quinnipiac University, nos Estados Unidos. Tem ampla experiência em relações internacionais e muita vontade de atuar nesta área no futuro. Atuou como assistente e depois analista de relações internacionais na Universidade Feevale durante 5 anos. Entre 2011 e 2012 trabalhou para a empresa sueca Universum no estabelecimento de relacionamentos entre a empresa e universidades brasileiras. Atualmente desenvolve projetos de comunicação e relações públicas com a empresa americana Summit Global Education, que promove intercâmbio de estudantes estrangeiros para o Brasil.
Karina, muito bom o seu texto. Abre o tema para uma reflexão mais ampla e mostra que tudo tem o outro lado. Em alguns casos, a maior parte é só o outro lado da história, não é? Para me ajudar na compreensão de tudo, gostaria que você ampliasse um pouquinho o tema explicando o que são essas "coligações" que você cita no texto e como ela são formadas. Também gostaria que explicasse o que você quer dizer com a frase: "esses grupos utilizam técnicas avançadas de relações públicas, assessoria de imprensa, lobby, relacionamento e financiamento de campanhas políticas para alcançar seus objetivos". Pode detalhar cada um desses itens? Desculpe pelas perguntas, mas como sou também dedicado nessa área e tenho desenvolvido pesquisa em relação às "relações governamentais" me interessa muito conhecer melhor o que você está colocando. Parabéns, sucesso em seu mestrado e mande noticias de seu trabalho ai nos Estados Unidos. Abraço
Karina, como é isso por aí? Existem empresas para essa prática? Ou é mais comum em freelancers bem relacionados? É uma prática legal? Fiquei curiosa.
Olá Larissa e Flávio.
Obrigada pelos comentários, fico feliz que tenham se interessado pelo assunto. Tentarei responder suas perguntas da melhor forma possível:
As coligações são formadas por grupos, ou indivíduos, com interesses comuns (ex: coligações políticas / partidárias). Quando organizados em coligações, esses indivíduos se tornam mais fortes, preparados e bem financiados. Portanto, com mais chances de sucesso do que se estivessem sozinhos.
As coligações podem ser usadas como técnica de relações governamentais, assim como o lobby. Algumas agências de relações públicas são especialistas nesse tipo de serviço, como foi citado no post do Pedro Prochno: GERANDO BUZZ EM “PUBLIC AFFAIRS”. Essas agências trabalham para que essas coligações consigam apoio popular (o que faz com o que o movimento ganhe força e atenção da mídia).
Para avançar os interesses de uma coligação e conseguir apoio da opinião pública, bons contatos em meios de comunicação são importantes, bem como apoio de determinados políticos (que devem ter o discurso alinhado com o da coligação). Ao mesmo tempo, lobistas são contratados para pressionar abertamente o governo.
Agora, é importante destacar que nem todos os grupos que se organizam para persuadir a opinião pública podem ser classificados como front groups (organização que pretende representar uma agenda, enquanto, na realidade, serve algum outro partido ou interesse cujo financiamento está oculto ou raramente mencionado).
Espero ter esclarecido algumas das suas dúvidas. O assunto é complexo e amplo, o que faz com que seja difícil de ser discutido por escrito.
Fico à disposição.
Abraços,
Karina Fensterseifer
É, toda história tem três versões, não é mesmo? A minha, a sua e a verdade hehehehe.
Estes grupos existem também no Brasil. As associações, Federações, Confederações, etc, estão ai cumprindo com este papel. A questão é a mobilização, e quanto mais gente se tem, mais dinheiro se emprega, mais fácil fica conseguir moldar a história para um lado ou para o outro.
O que acho fundamental disto tudo é sempre deixar claro que defender um ponto de vista (e fazer uso de todo este poder e destas ferramentas) é algo totalmente LEGITIMO para qualquer pessoa, empresa ou associação! O ponto de vista que se está defendendo é que pode ser questionável, não é mesmo?
Pedro Prochno
Olá, Pedro.
Meu objetivo com esse post foi aprofundar um pouco a discussão iniciada no teu post, tratando de coligações e front groups, pois acredito que esse assunto pode ser trabalhado por diversos ângulos.
Claro, defender um ponto de vista é algo totalmente legítimo. Só precisamos (como relações públicas, comunicadores e consumidores) ficar atentos às questões éticas e legais, o que daria um outro post interessante, não?
Além disso, preferi focar no contexto norte-americano, pois estou mais familiarizada com ele e porque aqui existe esse conceito de front groups, que acho muito interessante.
Parabéns pelo teu post. Acho que teu texto inicia uma discussão importante sobre o profissional de relações públicas e a atividade de relações governamentais.
Abraços,
Karina
Esse assunto tem MUITO o que ser dito e refletido. A questão ética é só o começo pois o que é certo pra mim, pode não ser para outra pessoa e assim vai…. É tudo muito relativo, mas eu adoro. Acho que é uma das áreas em que mais se pode aplicar as RPs em sua essência, definir e refletir estratégias, etc…
Abraços
Pedro