Relações Públicas nunca morre, porque ela sempre se renova. Agora mesmo é hora de celebrar o seu renascimento.
Nos últimos dias houve grande movimentação nas redes sociais em torno do texto “PR is dead” de Jim Nichols, publicado na forbes.com, defendendo a tese de que as relações públicas tradicionais estão mortas.
Apesar de concordar com os argumentos dele, de que há uma nova forma de fazer relações públicas no segmento da comunicação digital, afirmar que as relações públicas tradicionais morreram já é demais. Essa tese não encontra sustentação numa análise mais ampla. Só para começar, pode acontecer tudo com Relações Públicas, menos morrer, simplesmente porque ela nunca morre. Ao contrário, estamos sempre celebrando seu constante renascimento há 40 anos.
Como disse, o problema não está na forma ou na dinâmica apresentadas, mas sim numa tese limitada. Todos nós conhecemos o ditado popular “o uso do cachimbo torna a boca torta”, e é sob esse ângulo que vamos analisar a tese de Nichols.
Você sabe que Freud, um dos mais renomados psicanalistas do mundo, foi considerado também um dos escritores mais significativos de todos os tempos. Além da psicanálise, ele se destacou pelo seu estilo literário e por suas análises cinematográficas críticas e modernas. O que nem todo mundo sabe, é que ele passou os últimos 15 anos de sua vida com um câncer na mandíbula provocado pelo uso constante do fumo, mas, apesar disso, nunca aceitou abandonar o charuto, chegando a afirmar: “o charuto me acompanhou a vida inteira, principalmente nos momentos mais difíceis, não vou abandoná-lo agora”.
Freud revelava na prática a teoria do ditado acima, mas ele nos mostra também um outro sentido. Todos nós temos a tendência de seguir analisando as coisas de acordo com nossos vícios, referências ou interesses.
Você pode começar analisando o perfil de Nichols. Ele se apresenta na internet como vice-presidente da Digital Stern and Associates e a qualifica como uma empresa completa de comunicação, combinando o melhor de relações públicas, mídia tradicional, digital, marketing e estratégias de engajamento direto por meio de abordagens conectadas. De maneira inteligente ele se coloca como especialista em estratégias de mídia convergente.
Com um perfil desse nível, se eu fosse ele também falaria a mesma coisa. Entretanto, você não acha que se aplica aqui o velho ditado do cachimbo?
Olhando a questão de forma objetiva, para nós, profissionais de comunicação brasileiros, não há nada de novo no que ele diz. Ele apresenta mais da mesma coisa e como comentou Pedro Prochno: “choveu no molhado”.
Porque não podemos afirmar que as relações públicas tradicionais estão mortas? Porque esse é apenas mais um momento de mudança e evolução da atividade. Para quem conheceu, estudou e praticou Relações Públicas há mais de duas décadas sabe que a atividade passou por constantes mudanças e sofreu intensos impactos. Sabe também que ela sempre superou essas alterações profundas do mercado e evoluiu mantendo-se sempre viva.
Além de muitas outras, adaptar-se e evoluir são características da atividade. Para comprovar isso, basta lembrar a afirmação de Scott Cutlip, com a tese de que Relações Públicas tem o efeito de camaleão. No início relutei, mas depois de estudar mais profundamente a atividade conclui que ele estava certo. Baseado em sua tese e nos cenários da atividade no Brasil, à época, desenvolvi minha própria tese de que Relações Públicas era a Barbie da Comunicação.
Portanto, além de ter a propriedade de se adaptar às diversas circunstâncias e se moldar ao diferentes tempos e estilos, como afirmou Cutlip, ela poderia também ser aplicada de diferentes maneiras, como cada um entendesse que deveria e fosse capaz. O certo era que, se seus princípios fossem preservados, o resultado de sua aplicação seria sempre plenamente mantido.
Aqui podemos criar um novo ditado: “não importam os meios, o importante são os princípios”.
Bem, mas eu não fui tão longe naquela época, porque não havia ainda a era da comunicação digital e seus efeitos da interdependência como existem hoje.
No meu ponto de vista, a tese de Nichols está correta para o segmento em que atua, mas prejudicada porque afirma que a atividade de relações públicas morreu de maneira genérica, induzindo a todos para a visão exclusiva dele. É limitada porque enfoca mudanças no movimento dentro de um segmento exclusivo esquecendo o universo de aplicação de relações públicas.
Embora reconheça que as organizações navegam no oceano da comunicação digital e dependem de uma estratégia de convergência, elas navegam também, ou melhor, caminham em muitos outros chãos, às vezes arenosos, às vezes esburacados, que dependem dos princípios e fundamentos próprios de relações públicas para não afundarem como se estivessem em areia movediça ou despencarem como se caíssem em precipícios.
Considerando que uma organização é um órgão social e humano, como resolver, por exemplo, a questão dos relacionamentos na comunicação interna sem lançar mão dos princípios de relações humanas na ação de relações públicas? Uma questão crucial nessa área são as relações sindicais e toda a área de satisfação, produtividade e resultado dentro das empresas. Sem falar no como as relações públicas são determinantes para as empresas conquistarem títulos de “melhor empresa para se trabalhar” ou a “mais admirada”.
Outra questão fundamental é como livrar a empresa das crises e tragédias a que estão expostas sem a manutenção das técnicas de prevenção de riscos e crises corporativas. Nesse caso, não estamos falando em como gerenciar uma crise existente, mas como evitar que ela aconteça.
O que você diria para a questão de como tornar a empresa conhecida e respeitada no conjunto das relações governamentais sem o relacionamento direto, constante e permanente. As relações governamentais envolvem uma relação de confiança e credibilidade que só é alcançada por meio do contato direto e real.
Por fim – last but not least – como construir imagem positiva e assegurar reputação sem princípios e valores corporativos por meio dos princípios e ações tradicionais de relações públicas?
Estas são apenas umas das inúmeras aplicações de relações públicas fora da área onde ela se serve dos meios de comunicação como ferramentas de trabalho. Elas estão orientadas para um propósito de muito maior envergadura, como o de promover a integração em todos os níveis da sociedade.
Como você vê, a morte de relações públicas está muito longe ainda de acontecer. Até porque ela nunca morre.
Para mim, analisando somente o degrau de Nichols, ele parece estar certo, mas no conjunto não. Ficou a sensação de que ele utilizou muito bem seus recursos e habilidades para “puxar a sardinha para sua brasa”, sem cuidar do conjunto. Faltou uma visão mais ampla para analisar o Velho e o Novo nessa área que se renova constantemente.
Se você é um CEO ou um profissional de comunicação e quer entender melhor esse negócio de Relações Públicas chame um profissional. E se você precisar de ajuda, sinta-se à vontade para me mandar uma mensagem.
De qualquer modo para acabar logo com isso, é só não se deixar levar pelo vício do cachimbo, porque senão a boca fica torta e eu não sou Freud, nem em seu brilhantismo, nem em seu vício.
Por enquanto, apenas lembre-se: Relações Públicas nunca morre. Ela simplesmente arruma um jeito novo de se fazer.
Olá, Flávio.
Excelente texto. Agora que estou podendo aprofundar meus conhecimentos em Relações Públicas, no mestrado, estou percebendo como é (e como pode ser) ampla a nossa área de atuação. As oportunidades estão aí, surgindo todos os dias, e temos que nos agarrar a elas a fim de continuar o trabalho, aprimorar e atualizar a profissão.
Aqui nos Estados Unidos, trata-se bastante da conexão do profissional de relações públicas com a área de relações com investidores. Você sabe se no Brasil isso chega a ser discutido?
Abraços,
Karina Fensterseifer
Olá Karina, Tudo bem? Agradeço pelo comentário. Como vai o mestrado? Costumo dizer que quando você estuda e se aprofunda nos fundamentos de relações públicas você pode trabalhar em qualquer área porque basta aplicá-los. A experiência na área é decorrência de seu experimento. Dai vem a faceta de camaleão defendida por Cutlip ou se quiser em relação ao efeito Barbie, defendido por mim.. Aqui no Brasil a área de Rel com Investidores tem crescido muito, mas como em outras a entrada de Rps é muito pequena. Já existem mais profissionais de outras áreas atuando do que os próprios RPs. No ano passado participei de um encontro de Investor Relations e só encontrei dois RPs, Havia jornalistas, profissionais de mkt e administradores e outros executivos que se especializaram na área. Não tenho visto os Rps, em particular, discutindo isso não. Mande-nos notícias dai sobre isso e também sobre Rels Internacionais. Seria bom saber mais sobre o que está acontecendo por ai. Abraço
Olá,
Obrigada pela resposta. Interessante saber que os RPs no Brasil não estão percebendo essa oportunidade na área de Relações com Investidores. Aqui nos EUA cerca de 9% do pessoal de RI tem background em comunicação. Estou tendo aula com um dos poucos especialistas em RP e RI e estou pensando em escrever um texto sobre isso um dia desses… 🙂
Fico à disposição se surgir algum questionamento sobre a profissão aqui nos Estados Unidos.
Abraços,
Karina