Uma boa parte da minha educação formal em RP foi norteada pelo marketing. Outra grande parte foi norteada pelo jornalismo. E uma parte cinzenta, entre o marketing e o jornalismo, foi norteada por teorias de RP que, embora tenha tentado, boa parte nunca consegui colocar ou ver acontecer na prática.
Lembro claramente de uma aula em que após apresentar um trabalho sobre Marketing 1:1 (Don Peppers e Martha Rogers – aliás, recomendo que SIGAM o Don Peppers no Linkedin!) e um case da Levi’s, que para mim era um claro cruzamento de comunicação e marketing, uma professora-doutora em RP disse, nestas palavras, de forma a me desestimular mesmo: “acho tudo lindo, pena que isso nunca vai se tornar realidade”. Professora-Mãe-Diná? #Eutive! Felizmente tive outros professores, fantásticos, que me orientaram de outras maneiras menos adivinhatórias e mais realistas.
Só que durante a faculdade inteira eu tive medo de fazer marketing, afinal, olha o perigo: eu estaria me envolvendo com vendas. E vendas, desculpe, dona RP, é seara de quem entende, e não de um RP. (Também ouvi isso na faculdade)
Eu estagiei desde o final do meu 1º semestre de faculdade. Logo no meu primeiro estágio, uma das minhas funções era prospectar novos clientes. O meu chefe, na época, explicou: Ari, eu sou arquiteto. Também não tenho essa vivência de vender. Mas tenho que fazer e tu tens capacidade de sobra para fazer também.
Mercado 1 x 0 Universidade.
Confesso que foi um grande alívio, pois ao perguntar o que deveria fazer para arrasar no meu primeiro estágio de RP, um professor me respondeu “assessoria de imprensa”. Outro pânico tomou conta de mim: “vou passar a vida toda fazendo assessoria de imprensa? que saco!”. É claro que estava vendo só uma parte da história e aprendi, fazendo o que chamo de inbound PR, a nunca mais precisar fazer RP na vida. Mas um dia conto isso.
Desse misto de aprender a vender os serviços da agência a fazer assessoria de imprensa na prática, vieram os primeiros artigos em jornais. De aprender a negociar, surgiu a primeira capa. E da primeira capa, um dos maiores clientes da agência até então. A venda, claro, foi fechada pelo meu chefe. Mas quem vendeu, de fato: o aspecto vendedor ou a assessoria de imprensa? Digo sem pestanejar que foram os dois.
Fui confirmar isso anos depois, já empregada numa multinacional, quando por uma questão de “plano de carreira”, me foi proposto mudar da comunicação corporativa para o marketing. Muito embora ja soubesse que a linha entre uma coisa e outra não existia, aquilo me deixou mesmo maluca.
“Como assim, eu sou RP e vou trabalhar com publicidade? Com vendas online e offline? E a reputação? Eu sou péssima com números! Como vai ser?”. Naquela altura, tudo o que eu podia crescer dentro da área que estava, e como a empresa estava configurada, eu ja tinha crescido. Era a hora de dar o saldo e encarar métricas de marketing e vendas e conhecer que a publicidade tinha dois lados: o lado vendedor e o lado RP.
Olhando para trás, percebo que nunca deixei de ser RP. Ao contrário: poder fazer planejamento de marketing e publicidade, partindo dos princípios de RP deu outro valor ao meu trabalho. Aprendi, ainda, que ali não era o meu lugar, que eu queria mais contato com o sensível e com as Humanas. Voei pra Londres, comecei a trabalhar com arte e hoje faço mestrado em Ciências Humanas. Mas agora tenho uma agência, onde quem dita as regras sou eu. E a regra aqui é a universalidade. Sem caixas, sem conceitos, trabalhando sempre com os melhores para atender o que os meus clientes precisam.
Numa conversa com um querido amigo, coach e professor, o Tony Coelho, ouvi uma frase extremamente verdadeira: hoje já não importa para quem eu vou pedir trabalhos de comunicação, importa o que pensa quem vai planejar e executar. Todos tem a obrigacao ética de entender a comunicacao e fazer uso dela segundo as suas especialidades.
O foco do momento é no resultado. E para ser um bom executor, é preciso ser um bom leitor, um bom estrategista, um bom ouvinte e entender a comunicação e o marketing como os pais de tudo o que fazemos quando o assunto é vender ou promover ideias, produtos, serviços – e nós mesmos.
É isso aí, Ariane!
Essa fronteira não existe. E quem sabe disso e nos mostra e ensina todos os dias é mercado.
É engraçado como às vezes ex-alunos me dizem "professora, não estou trabalhando na área" e quando pergunto onde trabalham, respondem: "no comercial" ou "no marketing" e parecem infelizes ou deslocados ou inferiores por isso.
Como? A cada vez que ouço ou leio isso nos e-mails, preciso engatar um discurso explicando o quanto eles "estão na área"!
Por outro lado, também encontrei ex-alunos que estão na área comercial e dizem
"me encontrei!" e são Relações Públicas felizes e realizados.
Cá entre nós, quem trabalha com marketing e vendas tem muito mais chances de sucesso se tiver visão – e ação – de relações públicas! Por isso, tem vários cursos livres por aí, com nomes diversos e estrambólicos, que nada mais são do que cursos de RP direcionados para profissionais que trabalham com vendas e/ou marketing.
Estou afastada do magistério superior há alguns anos, mas, sinceramente, espero que os atuais docentes e coordenadores de curso já tenham se atualizado e mudado de mentalidade, tanto para se adequarem ao mercado quanto para evitarem a "infelicidade" de alunos que acham que não estão fazendo ou atuando em RP porque não estão trabalhando numa agência de RP ou num departamento de comunicação ou de RP.