Gabriel Araújo é Diretor Executivo Global de Criação da agência Ketchum e VP da Little George, agência que ele mesmo criou dentro do grupo. Referência na indústria da comunicação, Gabriel tem uma carreira premiada e foi jurado de prêmios importantes como Cannes Lions, Clio Awards e El Ojo Iberoamérica.
Em conversa com o Blog RP, Gabriel contou sobre a construção da sua carreira, o posicionamento diante do mercado competitivo da comunicação e compartilhou a percepção sobre as relações públicas, no âmbito internacional.
A construção da carreira
Influenciado pelo pai, dono de uma produtora de vídeo, Gabriel desde pequeno teve contato com a publicidade. Aos 8 anos, ele gostava mais de assistir os comerciais do que os próprios programas de televisão. A curiosidade em entender o que estava por trás das ideias executadas pela produtora, fez com que ele descobrisse o universo das agências.
Sua carreira iniciou aos 14 anos, em uma agência, e por todas empresas que passou reforçou o aprendizado de sempre ouvir pessoas com mais experiência. “Não tenha a arrogância de achar que no começo da carreira tudo que você faz é bom”, disse, referindo ao fato de que o início da carreira é uma fase de intenso aprendizado e que os jovens profissionais devem valorizar isso.
Se você quiser ser bom de verdade, tem que trabalhar pesado e saber ouvir para aprender com quem tem uma jornada mais longa que você. Fazer comunicação exige que você tenha muitas ideias para sempre conseguir exercitar e ter mais opções de coisas para apresentar aos diretores de criação.
E muito disso tem a ver com tentar ser melhor por você mesmo. Querer fazer coisas melhores é o primeiro passo para chegar num lugar diferente. Além disso, é preciso entender mercados e plataformas distintas.
Gabriel ressaltou que “depois que entendi a propaganda 100%, migrei para o digital. Depois fui entender o que era BTL, evento, live marketing, marketing direto… e eu entendi. Mas faltava uma parte do processo. Eu precisava entender o que é PR”.
Na visão do Gabriel, PR ainda hoje é essencialmente o modelo de assessoria de imprensa na maioria das agências. Porém, atualmente para que PR produza valor é preciso acrescentar o fator criatividade ao processos, “o que vale é a experiência que uma marca gera para o consumidor, e consumidores gostam de ideias novas, diferentes e incríveis. A mídia não fala sobre marcas, mas quando ideias criativas ganham relevância, a mídia vai abrir espaço para falar sobre elas”.
Veja também a entrevista que realizamos com Gabriel Araújo durante o Festival Cannes Lions
Carreira: das agências para os grandes festivais
Para você ser jurado de qualquer festival depende muito do seu background. E isso significa tempo de mercado. Tem a ver com os prêmios que você já ganhou, sua relevância para o Festival, como também significa relacionamento e networking.
Gabriel é o primeiro latino-americano a ser incluído na lista “INNOVATOR 25” do The Holmes Report. A lista reconhece as 25 pessoas que estão elevando os padrões de influência e engajamento dentro de suas organizações – e da indústria em geral – e foi reconhecido pelas contribuições notáveis para campanhas criativas e inovadoras na América Latina.
Presidente do Júri El Ojo PR, Gabriel disse “chegar até aqui é muito difícil, não há como você se autopromover. O que te conduz para os lugares mais cobiçados é uma avaliação consistente e o peso do seu nome. A história de vida e a carreira são essenciais nesse processo. São analisadas as premiações por agência e pessoais. Afinal é preciso saber quem é você no mercado. É um questão de relevância”.
Carreira: relações públicas internacionais
Como Diretor Executivo de Criação Internacional da agência Ketchum, Gabriel destaca que fazer comunicação é sempre o mesmo processo independente de onde você está, porém precisa adaptar ao mercado que está direcionado. As nuances dos mercados partem um pouco da cultura, como as pessoas se comportam e qual o comportamento de mídia.
“A gente tem que entender primeiro que tipo de PR queremos fazer, porque continuar fazendo o PR assessoria de imprensa, que é nada mais do que é uma estratégia tradicional, é um negócio que acabou”, disse.
Os profissionais de comunicação precisam pensar em: qual é a relevância das histórias que as marcas querem contar? Esse é um ponto chave que devemos compreender, uma vez que isso vale para qualquer mercado.
Segundo Gabriel, “se uma ideia é boa, ela vai funcionar em qualquer mercado. A única coisa que você vai fazer são as adaptações culturais. Por exemplo, você nunca pode ter uma ideia para o WhatsApp na China, pois lá eles usam WeChat. Às vezes a ideia para uma rede social funciona em qualquer lugar do mundo. Você só precisa entender a rede e saber as funcionalidades que ela tem. Então, acima de tudo, precisamos de boas ideias”.
Carreira: 2 dicas para os novos RPs
Se você é RP ou pretende atuar no mercado de comunicação para trabalhar numa grande agência, o Gabriel deu 2 dicas para você se destacar:
- Tenha um portfólio, mesmo que seja ainda estudante.
- Não seja arrogante e saiba ouvir as pessoas. Esteja disposto a aprender.
As pessoas precisam aprender a ouvir e saber que a dedicação é premissa para o sucesso. Trabalhar apenas no horário comercial não te fará o melhor profissional do planeta. Para você ganhar um prêmio como Cannes são muitas horas gastas em cima da mesma ideia.
Nesse sentido, não adianta ter uma boa ideia e uma execução horrível. Então, “ assim que entrar numa agência mostre que você vai ser relevante para ela. Mostre que você realmente tem vontade de trabalhar ali e que você tá afim de botar a mão na massa”.
Para encerrar, Gabriel apontou que “as agências estão precisando de gente que está afim mesmo de trabalhar e não gente que está vindo porque trabalhar que precisa cumprir horas de estágio”.