No segundo texto da nossa série com CEOs das principais agências de comunicação e relações públicas do Brasil, entrevistamos Eduardo Vieira.
Especialista em reputação corporativa, comunicador e empreendedor, é presidente e co-CEO para a América Latina da Hill + Knowlton Strategies, além de sócio-fundador do Grupo Ideal, holding criada com o WPP que controla no Brasil as operações da Ideal H+K Strategies, Hill + Knowlton Brasil e Ogilvy PR. Atualmente lidera um time de mais de 500 pessoas no Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e América Central.
Para ele, “as relações públicas têm um papel de missão crítica nas organizações”.
Confira como foi a conversa:
As mudanças no mercado de RP com a pandemia
Da dinâmica operacional de trabalho à valorização da atividade, Eduardo é enfático ao dizer que, de fato, muita coisa mudou.
A primeira grande mudança, segundo ele, é a “constatação prática de que a gente consegue trabalhar de uma maneira remota.” Ainda existia alguma resistência a essa modalidade e falta de comprovação de sua eficácia, agora isso fica mais evidente e representa um passo importante para o dia a dia das agências de comunicação, defende Eduardo.
“Envolve um trabalho que a gente acreditava que teria de ser feito presencialmente e descobrimos que podem ser feitas e realizadas remotamente. Uma parte mais funcional”, acrescenta.
A segunda grande mudança foi a concretização da importância da atividade de relações públicas. Para Eduardo, “sempre defendemos a relevância da atividade de relações públicas, entretanto não existia essa correspondência na realidade do mercado: seja na contratação de profissionais, seja no valor atribuído dentro das organizações”.
Com a pandemia, Eduardo entende que foi possível mostrar que RP é uma atividade de missão crítica: atua na gestão da reputação, da imagem organizacional, presta consultoria estratégica, faz relacionamento com a mídia e influenciadores digitais, tudo isso com base em dados e na autenticidade, em uma parceria muito forte com o jornalismo.
Qual foi o maior aprendizado nesse período?
O momento é de muito aprendizado, testes, validações de hipóteses, análises de cenários. Tem muitas respostas que ainda não estão claras, pontua Eduardo. Um exemplo é do próprio trabalho remoto, que se mostrou eficaz em muitas circunstâncias, contudo pode não funcionar para todas as pessoas, processos e funções.
“A configuração ideal da indústria de RP ainda não foi feita. Para os mais jovens que precisam de conselhos e mentorias, trabalhar à distância pode ter um impacto negativo na inteligência emocional e no desenvolvimento. Quando pensamos na vivência da cultura corporativa, a modalidade remota inclui dificuldades que antes não imaginávamos.”
Os desafios estão postos. Ainda sobre isso, Eduardo lembra que bons profissionais de RP desenvolvem habilidades de ler pessoas e decifrar comportamentos humanos. São tarefas difíceis de se fazer em uma relação tela-a-tela.
Para Eduardo, “são caminhos que temos de discutir do futuro da nossa atividade.”
A experiência da HK no processo de estruturação das equipes
A adaptabilidade é uma característica vital para o profissional de RP e, lógico, para as agências e empresas que trabalham na área. Na Hill + Knowlton Strategies, Eduardo conta que o processo de adaptação para o trabalho remoto envolveu conversas diárias e on demand até compreenderem a melhor dinâmica. Porém, desde o início, as entregas foram mantidas sem grandes dificuldades e com alto grau de colaboração.
“A gente percebeu que se não colabora o trabalho não sai. Em termos específicos da HK eu tenho só elogios e muito agradecimento a todos os líderes da agência, e as equipes incrivelmente comprometidas e profissionais”, comenta Eduardo.
E o papel do RP, qual é?
Eduardo reforça sua compreensão de que o RP tem um papel de missão crítica: “a comunicação é muito sensível, temos crises de credibilidade e suspeitas que acontecem o tempo inteiro, narrativas fabricadas, uma série de coisas que permeiam a nossa vida, muito fáceis de serem identificadas com fake news e manipulações. Neste contexto, nossa atividade se tornou essencial.”
RP atua na mediação, sendo um balizador de tudo que temos de montar em termos de discursos, dando legitimidade e autenticidade ao que é falado, defende Eduardo.
Para o futuro, ele enxerga que temos a oportunidade como nunca tivemos antes de agarrar isso mercadologicamente, consolidar nossa importância frente às organizações e abrir portas para o desenvolvimento dos negócios. E finaliza: vejo o futuro de RP como uma das profissões mais promissoras dos próximos tempos.
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