De fato, não dá para dizer que a “comunicação social brasileira” se omitiu de tentar orientar e educar a população sobre como se proteger do vírus. Porém, um grande esforço de comunicação não-sincronizado, confrontado por discursos presidenciais mentirosos, e mergulhados em um mar virtual de fake news, tem tudo para ser pouco efetivo mesmo. Daí que vem o fracasso.
Mas eu quero ir além. Sou relações-públicas. Reflito a comunicação a partir do meu lugar de comunicador social formado em relações públicas.
Então, qual o papel das RPs no enfrentamento à covid?
Não consigo ver um fracasso das RPs nesta pandemia. Porque “fracasso” presume uma pretensão. Significaria dizer que tentamos algo e não obtivemos êxito. Porém, o que tentamos?
As dificuldades de se tentar algo, no caso uma estratégia de comunicação ampla articulada com princípios que norteiam as relações públicas, eram e seguem sendo altíssimas. Não entro nesse mérito.
Entretanto, considerando a hipótese de que nós, RPs, enquanto classe, não tentamos, será então que seria essa falta de tentativa uma falha? Me parece que sim.
Um parênteses
Não tá fácil para ninguém e falar sobre isso é chover no molhado. Tem RPs buscando recolocação no mercado ou então com sobrecarga no trabalho, tem RPs ansiosos, depressivos, com dificuldade de concentração e de entregar aquilo que lhe é cobrado pelo seu ganha pão. Ora, os RPs estão tal como está o brasileiro. É uma coisa só.
Mas dava para ser diferente?
Não sei.
É um pouco (ou muito!) romântico pensar que temos ou tínhamos o poder de ser um contraponto relevante às fake news contra a ciência, o uso de máscaras e o distanciamento social.
Além disso, é bem verdade que existiram tentativas e iniciativas de profissionais, grupos e empresas. Pontuais, no entanto. Não organizadas, na minha concepção, para que fossem uma resposta à altura da nossa capacidade, do nosso dever e da necessidade do País.
Não somos os salvadores da pátria, longe disso. Entretanto, somos os profissionais que temos como função essencial sintonizar interesses para estabelecer relacionamentos saudáveis, conectando pessoas, engajando públicos em prol de um objetivo comum que seja bom para todo mundo. Dessa função e de nossas habilidades, tenho certeza, o enfrentamento à pandemia carece.
A principal questão
Será se tínhamos como (será se ainda tem?) conectar Conselho Federal de Relações Públicas, Associação Brasileira de Relações Públicas, coletivos, agências e academia para, reunidos enquanto classe, pensarmos e criarmos juntos possíveis estratégias e ações que contribuam para o enfrentamento à pandemia?
Se tínhamos como fazer algo e não fizemos, então falhamos? E tendo em vista a abrangência e complexidade do problema, podemos dizer que essa falta de tentativa é a maior falha da história das relações públicas brasileira?
Talvez sim, talvez não. O certo é que não chegaremos a um consenso. E uma observação: faço uma análise de fato, não de busca por culpados, afinal sou também sujeito desta crítica.
E temos, hoje, como fazer algo? Dá para ser diferente? E se tentarmos juntos, enquanto ecossistema, essa resposta?
Melhor lá na frente a gente debater um possível fracasso, sabendo que essa hipótese presume uma tentativa, do que seguirmos essa discussão sobre o tamanho da falha.