Eu sou apaixonada por estudar tendências de comportamento humano, de consumo, de negócios e afins. Acho que esses reports e análises trazem informações e insights que, além de nos ajudarem com a construção de repertório, podem ser muito úteis para os planejamentos que nós, profissionais de Relações Públicas e comunicação, precisamos estruturar para nossas marcas e clientes.
Nos últimos meses, várias consultorias – como WGSN, Edelman e Euromonitor – produziram estudos sobre as mudanças no nosso comportamento como consumidores de conteúdo nas redes sociais, que atingiram um novo patamar durante a pandemia: mais de quatro bilhões de usuários mensais.
Uma pessoa comum passa, em média, 2,5 horas por dia nas redes, com índices ainda maiores entre os adolescentes, de acordo com o relatório The State of Social Media 2021. Os hábitos digitais também estão mudando: o uso do Facebook às 5h da manhã cresceu 98%, mostrando que agora as pessoas checam as redes sociais no período em que, antes da pandemia, provavelmente estavam se preparando para sair para o trabalho.
Todos esses estudos apontam que, para os próximos meses, haverá um movimento de desaceleração. As pessoas, principalmente os jovens, estão buscando formas de entretenimento mais calmas e seguras e muitos deles já começaram a deletar perfis em algumas redes.
Fiz uma seleção das tendências que, na minha opinião, trarão os maiores impactos para nós, consumidores e profissionais de comunicação.
A busca pela felicidade
Depois de tempos de angústia por conta da pandemia, está surgindo um novo movimento centrado na felicidade. As pessoas estão cansadas e angustiadas, vivendo um cenário inédito, e vão começar a buscar momentos de alegria como uma forma de escapismo, fenômeno natural após grandes tragédias e acontecimentos.
As buscas por “positividade” no Pinterest não param de crescer e surge um novo termo, o “joyscrolling”, que é a alegria trazida pelo ato de rolar a tela e consumir conteúdo leve e que traz alegria.
Para as marcas, a lição de casa é ser um canal de felicidade, por meio dos seus serviços, produtos e conteúdo. Para os consumidores, é fazer uma curadoria das fontes que realmente geram esses bons sentimentos.
O áudio vai crescer, sim!
Sim: mesmo após a febre inicial do Clubhouse que, com a mesma rapidez que chegou, foi embora, as comunidades de áudio vão ganhar popularidade. Os especialistas afirmam que o futuro das redes sociais está na fala, em aplicativos que privilegiem o diálogo e a troca entre as comunidades, e que ofereçam uma experiência mais leve e alternativa às telas – já que todos estamos cansados da overdose de lives e reuniões no Zoom (já ouviu o termo “Zoom fatigue”? Pois é).
Prepare-se para ver muitas redes lançando suas plataformas de áudio em breve.
Construção de comunidades
Estamos no meio de uma crise financeira, de saúde e de solidão, e as comunidades digitais se tornaram um espaço de apoio e acolhimento. Os estudos mostram que elas continuarão crescendo (principalmente as temáticas) e que faremos parte de várias delas: comunidade para empreendedoras, de mães, de um clube do livro, de networking entre executivos, etc. Surgirão muitas comunidades de apoio emocional, como, por exemplo, para quem tem alguma doença crônica. Esses grupos trazem um “senso de pertencimento” que é vital para a nossa realização como seres humanos.
Para as marcas, há a oportunidade de criar ou patrocinar comunidades voltadas para temas específicos do seu universo, aproximando-se dos consumidores e criando relações próximas de conexão e confiança.
Sim, todos nós vamos estudar on-line!
Você já deve ter percebido que até os cursos mais tradicionais já têm suas versões digitais. Esse é um caminho sem volta. Além disso, nosso aprendizado será cada vez mais nichado e sob demanda: faremos cursos, formações de curta duração, atualizações práticas e mentorias para atender questões pontuais de conhecimento.
Vamos aprender o que nos interessa a um clique, da forma mais interativa possível, e na hora mais conveniente.
Iremos valorizar o slow content
Você já reparou que há um movimento de retorno das newsletters? Pois é, nós, consumidores, estaremos em busca de conteúdos que estimulem reflexões e priorizem as conexões – um consumo mais lento de informação.
Os blogs também estão de volta: de acordo com a Statista, em 2021, o número de blogueiros nos EUA deve atingir os 31,7 milhões. Os criadores de conteúdo estão cansados de ficarem reféns dos algoritmos das redes sociais e querem um espaço onde possam estimular reflexões mais profundas e conscientes.
Nomes famosos do jornalismo estão aproveitando o seu status digital, abandonando as redações e buscando a independência por meio de newsletters e blogs com assinaturas pagas.
Olhando para tudo isso, minha conclusão é que a lição de casa para as marcas (inclusive pessoais!) será compartilhar conteúdo que promova momentos de alegria e informação, além de mostrar autenticidade e criatividade. Rever a frequência de postagens, para evitar a ansiedade dos leitores/consumidores/seguidores e criar comunidades que agreguem real valor.
Para nós, consumidores e usuários, fica o desafio da curadoria: selecionar fontes de informação que nos tragam um conteúdo relevante, leve, criativo, inspirador, construtivo e, acima de tudo, útil. Em um mundo de “infobesidade”, o que não tiver utilidade desaparecerá.