Estamos na era da midiatização dos indivíduos, na possibilidade de usarmos mídias digitais como instrumentos de divulgação, exposição e expressão pessoais. Daí o termo usuário-mídia. Cada um de nós pode ser um canal de mídia: um produtor, criador, compositor, montador, apresentador, remixador ou apenas um difusor dos seus próprios conteúdos.
O usuário-mídia, a meu ver, é um heavy user tanto da internet como das mídias sociais e que produz, compartilha, dissemina conteúdos próprios e de seus pares, bem como os endossa junto às suas audiências em blogs, microblogs, fóruns de discussão on-line, comunidades em sites de relacionamento, chats, entre outros. Acreditamos que existam níveis de usuário-mídia: os que apenas consomem conteúdo e replicam; os que apenas participam com comentários em iniciativas on-line de terceiros; e os que de fato produzem conteúdo ativamente.
No ciberespaço, cada sujeito é efetivamente um potencial produtor de informação: serviços colaborativos de informação, comunidades, blogueiros ou microblogueiros – que vivem o fato e relatam em suas páginas pessoais. (LEMOS, 2008, p.3)
A cultura da criação, para Deuze (2009, p.22), está se tornando rapidamente o centro da atividade industrial e individual na emergente economia cultural globalizada. Para ele (Ibid., p. 23), a mídia sob qualquer formato ou tamanho, amplifica e acelera esta tendência, pois não apenas consumimos a mídia digital, bem como vivemos nela. E isso ocorre de tal modo que a nossa “dieta” midiática caminha mais para a produção desta do que para o simples consumo. A tecnologia é central no trabalho da mídia atual, alerta Deuze (2009, p. 31).
Montardo (2009, p. 4) atribui outra nomenclatura aos usuários-mídia: produsers e prosumers. Bruns e Jacobs (apud MONTARDO, 2009, p. 4) apontam que os produsers definem os “usuários de ambientes colaborativos que se comprometem com conteúdo intercambiável tanto como consumidores quanto como produtores”, fazendo o que os mesmos autores classificam como produsage (produção ou uso). Já a terminologia prosumer foi primeiramente citada por Tofler (1990) e significa consumidor profissional em que o retorno de suas necessidades, gostos e impressões das organizações culminam no desenvolvimento de novos produtos e serviços. Já os produsers afetam diretamente no modo de produção capitalista, interferindo diretamente na reputação e na imagem das corporações.
Benkler (2006, p. 126) classifica esse novo consumidor como sendo aquele usuário mais ativo e produtivo que os consumidores da economia industrial da informação.
Aqui se delineia um contraponto à cultura do controle: nesta mídia – web – o usuário tem total condição de produzir seu próprio conteúdo ou escolher as fontes que quer para se informar, entreter ou interagir. E tais fontes não necessariamente estão a serviço dos meios de comunicação tradicionais, podendo ser blogs, microblogs ou comunidades inteiramente lideradas por outros usuários comuns. As organizações perdem, portanto, a primazia do controle da informação, passando a dividi-lo com internautas e outros entes.
Em suma: os usuários-mídia, os mais ativos na internet, são os novos formadores de opinião que ajudam a disseminar mensagens, elevar assuntos à condição de destaque, influenciar audiências e contribuir para a construção ou para o fracasso das marcas, produtos, serviços e afins…
Você é um usuário-mídia?
Referências utilizadas neste post
BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom. New Haven, Conn: Yale University Press, 2006.
DEUZE, Mark. The media logic of media work. Journal of Media Sociology. University of Illinois, v.1, n. 1/2. p. 22-40, Maio de 2009. Disponível em <http://www.marquettejournals.org/images/JMSVol1Nos12.pdf>. Acesso em 30 Set.2010.
LEMOS, André. Cibersocialidade – Tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Salvador: UFBA, Centro de estudos e Pesquisa em Cibercultura, [s.d.]. disponível em <http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/text_and3.htm>. Acesso em 12 Dez.2009.
MONTARDO, Sandra P. Conteúdo Gerado pelo Consumidor. Reflexões sobre a apropriação pela Comunicação Corporativa. In.: XXXIICongresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, GPCibercultura. Disponível em <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-1759-1.pdf>. Acesso em 13 Set.2009.
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