Hoje o Pedro Prochno me chamou a atenção para um estudo da Universidade de Oxford, publicado na Folha de São Paulo. Nele os pesquisadores, incluindo o Instituto Reuters, afirmam que Relações Públicas e seus clientes não precisam mais de jornalistas para levar a sua mensagem adiante, pois as redes sociais e meios alternativos digitais supostamente cumprem este papel.
O grande ponto da pesquisa, porém, e o mais importante na minha opinião, é a perda de sentido crítico que o enfraquecimento dessa relação entre jornalismo e RP gera para toda a sociedade.
Há algumas semanas eu compartilhei aqui um post onde afirmei porque eu entendo que Relações Públicas não se trata mais de uma profissão e sim de uma mentalidade. Também falei há alguns meses sobre a linha (que não existe) que separa o marketing da comunicação. E embora o estudo de Oxford considere dois perfis profissionais, não podemos analisar a realidade da comunicação sem expandir o olhar para outras áreas.
É claro que, ao longo da nossa história RP, alguns caminhos degeneraram a nossa imagem, especialmente porquê éramos vistos – com razão em diversos casos – como os caras que trabalhavam com a modificação (e não com a construção!) da imagem e da – via de regra má – reputação. George Orwell sumarizou: “o jornalismo traz à tona tudo aquilo que as empresas querem esconder. Todo o resto é Relações Públicas”.
Eu seria hipócrita em dizer que discordo desta afirmação. A diferença, hoje em dia e ainda bem, é que as falhas são amplificadas para todo o mundo nas redes sociais. Nós, as empresas, clientes, produtos que representamos, precisamos andar na linha, pois em alguns casos os danos são irreparáveis para a reputação. Para o engajamento com as nossas personas. Para a boa vontade dos nossos stakeholders.
Comparar jornalismo e RP traz à tona uma série de questões fundamentais para a sociedade, que não cabem neste post. Em especial, a ética. E ética é uma linha tênue, mas não significa que seja mais clara para o jornalismo do que para as Relações Públicas.
O tempo passou, uma centena de anos na verdade, e hoje o que acontece no mercado é uma dança de cadeiras: jornalista virando marketeiro, RP fazendo conteúdo e entrevistando fontes, publicitário virando produtor de eventos. Social media que sequer sabe o que significa “código deontológico” ganhando a função de jornalista, levando informações para as pessoas em massas cada vez mais segmentadas, sem considerar uma série de valores inclusive filosóficos, que passam longe de cursos que ensinam como postar melhor e como calcular o resultado dos seus esforços financeiros e de tempo.
Uma amigona jornalista que trabalha com produção de conteúdo para empresas em Londres, após já ter trabalhado para grandes mídias e ter inclusive escrito para o The Guardian, comentou há algumas semanas: “eu não critico a produção de conteúdo e o marketing de conteúdo como já critiquei. Se um dia eu atendi aos interesses do dono do jornal, hoje eu atendo aos interesses do meu cliente”.
A ética está no profissional e não no cliente – seja ele o editor ou o CMO.
É fundamental olharmos para essas questões e pensarmos sobre elas. Estamos entrando em novos paradigmas de produção de informação e conteúdo. Os jornais estão mudando a forma de relacionar marketing com informação. A cultura está encontrando maneiras de se auto-sustentar através de estratégias de marketing de conteúdo.
Vivemos na era do Tinder para encontrar parceiros e do ebook para atrair as pessoas certas para os nossos negócios. Se antes comunicação podia até ser one night stand, hoje ela virou relacionamento sério. E relacionamento é, sim, coisa de RP. E quem estiver afim apenas de uma aventura, é bom procurar parceiros em outros mercados onde a regra ainda é ditada pelos velhos padrões de ignorar as pessoas ou encontrar novas formas de mentir. Por enquanto.