Há alguns dias eu escrevi uma breve análise sobre o filme Birdman no meu Linkedin. Falava sobre as lições de RP, e hoje, com a vitória do Oscar de melhor filme de 2015, achei justo trazer esse papo aqui para o Relações.
Independente de você ter gostado ou não do filme, a reflexão é sempre importante. Quando falamos de arte e cinema (mesmo dos blockbusters!) não se trata apenas de “gostar ou não gostar” – a isso se dá o nome de juízo de gosto.
É importante levar em conta também o juízo de valor do que passa diante de nós, na vida e na arte. Esse é também um ponto bem importante para quem é RP, herança da teoria do jornalismo: uma busca pela – utópica – imparcialidade. Por enxergar o lado do outro, por debater sem brigar, por se posicionar sem ser violento. Por – buscar sempre – expor o que é fato.
No caso da arte, o poder simbólico por trás das imagens tem um valor maior do que gostarmos ou desgostarmos. Ele reflete o momento que vivemos, o dia de hoje e os seus impactos nos seres humanos, coisa que nós só conseguimos enxergar claramente muito tempo depois – e a isso chamamos de História.
Então vamos a alguns fatos…
1. O mérito do diretor e as razões para o Oscar
Birdman trouxe uma reflexão sobre o papel dos atores no mundo atual e sobre a influência do ego sobre os seres humanos na vida e na arte. Do ponto de vista técnico, os famosos e comentados planos sequência, além de mostrar a intrincada mente do personagem principal, simulam no cinema o que é de fato o teatro. Um ator pode ficar horas em cena, sem cortes, e o filme conseguiu reproduzir isso na telona.
O roteiro que passeia entre o real e o fantástico, construindo e desconstruindo, num movimento de estilo super contemporâneo também na performance e na dança, foi complementado com chave de ouro pelo uso da trilha e as entradas e saídas de cena dos personagens, dentro do próprio filme.
2. Os pitches jornalísticos.
Tem aula de redes sociais e um *media training* imperdível implícito no roteiro: quem faz o pitch com a principal jornalista de teatro de Nova York são os próprios atores.
Nada de releasezinho sem graça, nada de ligação fria, nada daquele mailing furado que alguns (ainda) guardam como “ouro” e não geram nem notinha de pé de página. O target é claro, o papo é quente e eles entregam as key messages to-di-nhas num diálogo franco e direto ao ponto.
Conseguem usar o poder da persuasão para fisgar a atenção da jornalista e ela, que disse que ia “destruir” o conteúdo, curiosa, vai conferir. Mais importante de tudo, o pitch também é super honesto: em nenhum momento os artistas pedem para que ela fale bem da peça; pedem para que ela assista e comente o que realmente achou.
3. O poder do networking
Reparem que quem “salva” a peça é a indicação de Lesley (Naomi Watts), logo no início do filme, que propõe a entrada no enredo do seu caso e ator renomado Mike Shinner (Edward Norton).
Todos querem salvar a peça, todos estão finalmente na Broadway e não querem perder a oportunidade de dar o seu melhor. O networking e a colaboração com o objetivo de atingir resultados acima da média que o filme apresenta são também dois dos principais *efeitos* contemporâneos da aldeia global na qual vivemos. Embora muita gente ainda só pense em competir.
4. Todo Mundo Precisa de um RP
E todo mundo é um pouco RP. Essa mentalidade é exercitada por Sam (Emma Stone), filha e produtora do personagem principal Riggan Thomson (Michael Keaton). É ela quem briga, mas está na volta, tuíta e acompanha o crescimento do pai nas redes sociais. Apesar do choque de gerações, as relações públicas mostram o seu poder e no final – feliz, claro – nos deparamos com a compreensão mútua. Mundo perfeito – mas nem sempre possível.
Birdman fala de reputação, de ego, de influência e tantos temas tão comuns na vida e na arte. Sem que nenhum RP sequer apareça em cena – mais uma prova de que RP é cada vez mais uma mentalidade. E agora com Oscar e tudo.
De toda a forma, quanto mais conhecimento, leitura de jogo e consciência temos sobre os impactos dessa nossa incrível área de atuação, melhores profissionais de RP nós somos. Mas sem arrogância e sem reserva de mercado. Estamos aqui não apenas para operacionalizar a comunicação, mas principalmente para torná-la estratégica, seja o nosso cliente uma empresa, ator, artista, etc.
PS: e por falar em redes sociais, observem no final desta matéria como Diário de Pernambuco usou o Storify, um recurso fantástico e ainda subaproveitado, para narrar o desenrolar da cerimônia do Oscar.