Há um erro muito grande na nossa área que oscila entre a soberba (“podemos reverter uma crise como a de Mariana”) e a crise do patinho feio (“ninguém nos reconhece, não tem um RP lá na frente atuando”).
Hoje, navegando, cheguei na notícia a seguir. Fiquei pensando: RP poderia ter impacto na tragédia de Mariana se soubesse o que cobrar, se, entre outras coisas, tivesse conhecimento para garantir junto a engenheiros e técnicos que os planos de emergência e mapas de risco ambiental estavam cumpridos e monitorados.
Será que estavam? Saberíamos se este é um dos caminhos antes da tragédia ter acontecido? Aprendemos em algum lugar a cobrar essas questões? E daqui para a frente, o que vamos cobrar? Como e de quem? Porque todo mundo continua falando de Mariana, mas aparentemente nada mudou para evitar futuras tragédias…
A culpa é de quem?
Não, não adianta cobrar o governo. O governo não existe. Existem pessoas. Eu acredito que pessoas podem ser orientadas e essa orientação pode sim vir da mentalidade RP. Tanto em empresas, quanto no governo. Em qualquer lugar do mundo.
Mas para isso precisamos entender de pessoas e abrir uma comunicação clara, transparente e direta com elas. Coisa que é bem difícil, a julgar pelas nossas próprias vidas. A julgar pela minha. Eu tenho uma enorme dificuldade de estabelecer comunicação clara e direta com algumas pessoas, por incompatibilidade, medo ou mimimi mesmo. E levei tempo para descobrir que não sou uma pessoa pior por isso.
Não somos os super-heróis que chegam no meio da crise e salvam o mundo. Não somos e esse personagem só existirá nos quadrinhos. Somos um profissional que pode (e deve) trabalhar na prevenção, não por acaso o planejamento de comunicação é uma das bases acadêmicas mais importantes de RP.
Somos conectores e resolvemos problemas. E precisamos de ajuda para resolver os nossos também. Por isso funcionamos melhor de forma coletiva.
Cadê o propósito das Samarcos do mundo? Qual RP poderá ajudar?
Não somos salvadores da pátria (literalmente), trabalhamos com uma área que lida diariamente com improbabilidades (comunicação) e, aqui vem o erro, dificilmente trabalhamos a partir de estratégias de negócios. É preciso alinhar propósito com impactos do cumprimento e do não cumprimento deste propósito. Temos que nos aproximar ainda mais da administração enquanto disciplina.
Podemos e devemos aprender a gerenciar crises, mas sem a pretensão de “mudar” uma imagem destruída perante a opinião pública. Crise é lidar com a consequência de um problema (em diversos casos, problemas gerados pela falta de planejamento).
É importante pensarmos em pequenas atitudes diárias para mudar o todo. Em microrrevoluções. Nossa profissão tem um potencial acima da média para elaborar estratégias que respeitem e repercutam em todas as pessoas ligadas a uma organização.
Essa é a mentalidade que fez surgir os super heróis: um projeto de mentes criativas que conseguiram olhar o todo de cima e desenvolver uma criatura que resolve os problemas.
Taí: talvez o super herói seja a mentalidade RP. Nós somos apenas os redatores, criativos e fazedores organizando os caminhos para ela seguir evoluindo na sua história. Mas podemos, e devemos, atuar para fazer um futuro diferente. Mesmo que seja chamando a atenção para um fato que não impacta em nada num futuro melhor, como o artigo que mencionei lá no início.
O que você está fazendo como RP para que Mariana não se repita?