No mês do empreendedorismo, não poderíamos deixar de trazer um texto da Carol Andreis, fundadora da Babushka, agência que desenvolve estratégias de relacionamento e conteúdo para grandes marcas. Acompanhe abaixo a história dela. 🙂
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Como uma agência de 30 pessoas e com faturamento acima de 5 milhões gerencia equipes totalmente em home office?
Já aconteceu em reunião com outras agências: a coisa ia bem, muito bem, estávamos fechando uma prospecção, pegando um briefing e alguém do time comentava sobre o home office. O clima ficava tenso, o negócio parecia desfeito. Era um estigma, uma certeza que a coisa não era séria. Afinal o que se pode comprar sem o status quo?
A maioria das pessoas adora compartilhar que a Uber é a maior empresa do mundo sem ter carros, que o AirBnb é a maior rede de hospedagem sem ter nenhum empreendimento, mas quando chega na prática em suas vidas não conseguem sair da ideia de escritório que a vida inteira viram nas famílias e nos filmes. Eu não sou uma dessas pessoas.
Confesso que essa ideia começou em 1996 quando usei a rede BBS pela 1ª vez, pré-internet. Eu tinha 14 anos e na hora pensei que não seria mais preciso ir à escola ou fazer ligações. Aquilo realmente me encantou e quando chegou a minha vez de empreender eu não via alternativa mais inteligente do que trabalhar em casa.
Quando tínhamos 4 pessoas era uma tarefa fácil. Passávamos o dia em aplicativos de mensagem e na frente do computador. A capacidade de concentração aumenta muito e o silêncio do ambiente só ajuda a eficiência. Para completar, nosso job é entregar conteúdo para marcas em canais sociais na internet, a famigerada social media. O home office só ajudava o entendimento daquilo que estávamos construindo.
Quando passamos para 12 pessoas a coisa começou a ficar confusa. Até aquele momento, trocávamos mais de 100 e-mails por dia, até que surgiu uma ideia genial. O Facebook já estava estável e com imagens e já tinham sido implementados grupos secretos. Migramos para lá.
Hoje são cerca de 20 grupos secretos, divididos por clientes, equipes e tipos de jobs. Estamos em quase 30 pessoas e seguimos em casa. Há pouco tempo contratamos uma consultoria para entender se isso realmente era possível com o ritmo de crescimento em que estamos e se nosso time, que hoje é incrivelmente unido e entende nossos ideais, gostava do home office. Eles são mais fãs do que podíamos imaginar.
Somos muito rígidos com horários e qualidade de entrega. Somos daquele tipo de pessoa que não deixa uma vírgula fora do lugar e, quando deixa, se incomoda bastante (e daí estou usando um eufemismo, é quase harakiri mesmo :)). Manter uma equipe no mesmo ritmo do que acreditamos ser excelente é nosso desafio. Hoje com a cultura exposta e trabalhada no dia a dia conseguimos vencer e não temos dúvida: no coração dessa cultura está o home office.
Sempre que chega alguém novo de agência tradicional acontece aquele baque. Os mais adaptáveis logo estão surfando nos grupos e volta e meia me perguntam no messenger:
Como vocês conseguem fazer dar certo? – É quase mágico.
Outros demoram mais, e os que têm medo de botões, aplicativos e cliques desistem. Acabamos selecionando um perfil tech savvy, avant garde, ousado e até inconformado. Exatamente o tipo de equipe que a gente quer.
Meus pais, no começo, não acreditavam e acho que só quando o material começou a falar mais alto eles entenderam que a coisa era séria. Mas eu nunca me limitei por status quo, é verdade. Dentro do contexto social em que estava inserida, eu não era o padrão de beleza, além do contraponto entre ser feminina e ser líder, nunca me encaixei em padrões que, sinceramente, eu não tinha como alcançar. Sempre admirei quem fazia das “fraquezas” a sua força. Quando a Babushka começou eu não tinha investidor, grana ou mesmo certeza para montar uma agência tradicional. Hoje temos, mas nossa evolução acompanhou as redes e o comportamento das pessoas nos grandes centros. Não é inteligente ou prático perder tempo no trânsito ou no transporte público, sair do conforto para fazer algo que podemos fazer até melhor em um local que nos sentimos bem.
Temos desvantagens também: tivemos que criar uma linguagem cheia de emoticons e gifs (nada mais apropriado para nosso job) para que o tom do que se escreve não se perca. Algumas vezes precisamos fazer brains e reuniões ao vivo, é quase uma questão de reconectar as energias para criar, e assim instituímos um dia semanal em que ficamos juntos em nossos QGs em São Paulo e Porto Alegre. São dias divertidos, mas rendemos bem menos. E às vezes chove.
Esse texto foi originalmente publicado aqui.
Carol Andreis é Diretora Executiva da Babushka Social Media
Fundadora da Babushka, agência que desenvolve estratégias de relacionamento e conteúdo para clientes como Uber e P&G. Carol é responsável pelo planejamento de ações com digital influencers há 10 anos, já tendo cases com marcas como AMBEV e Fox Home Entertainment. Vencedora do Top of Mídia e do Wave Festival. Palestrante da Campus Party, RP Week, Social Media Week São Paulo, Social Media Week Roma e fundadora do Social Media Day Porto Alegre.