Você já deve ter conferido os resultados do Trust Barometer 2018, certo? A pesquisa anual promovida pela Edelman que busca medir o nível de confiança da população de 28 países em relação ao governo, negócios, ONGs e mídia, revelou uma perspectiva assustadora de descrença a nível global em 2018.
Se você ainda não conferiu o relatório do Trust Barometer deste ano, confira neste post o resumo que fizemos com os insights mais importantes.
O cenário apresentado pela pesquisa instiga a reflexão sobre o papel das empresas na sociedade que, cada vez mais, vai além da entrega de seus produtos e serviços. A onda de desconfiança no poder público abre oportunidades inéditas para organizações posicionarem-se e tomar atitudes sobre assuntos de interesse social e econômico. Mais do que nunca, a expectativa é que negócios atuem como agentes de mudança positiva na sociedade.
(Não podemos esquecer que essa expectativa de envolvimento do setor privado em causas sociais revela, na verdade, um cenário de fragilidade política e econômica, que reflete na descrença da população sobre ações do governo. Mas, em busca de soluções, vamos chamar de “oportunidade de mudança” por aqui.)
Além da expectativa de ação, os resultados da pesquisa mostram que espera-se que as organizações sejam transparentes com o público e estejam dispostas a educá-lo quanto a sua atividade, contexto de atuação e iniciativas.
Será que também temos à vista um aumento de oportunidades para a área das Relações Públicas?
Pessoalmente, acredito que essas oportunidades saltam aos olhos. Enxergo o RP como gestor de ativos intangíveis (como a reputação) dentro das organizações, e isso naturalmente nos torna agentes de mudança.
É ótimo lembrarmos que também é nossa responsabilidade mapear oportunidades para a organização e, enquanto comunicadores, ajudar CEOs a se posicionarem perante questões que são autênticas para a empresa e para seus públicos, a se tornarem líderes e exemplos, criando espaço e poder de voz e utilizando as diferentes mídias como canais de construção de confiança com esses públicos.
Existe a opinião de que o envolvimento em causas e iniciativas sociais deve ficar nas mãos ou do governo ou de ONGs formadas por grupos de pessoas irresignadas e dispostas a fazer a diferença da forma que puderem. Mas, e se as grandes empresas também fizessem uso do seu poder de ação, da sua influência, da sua equipe de profissionais e, sim, de parte do seu dinheiro, para promover ações de impacto em que a finalidade não fosse o seu próprio lucro, mas sim o benefício da sociedade em que atua?
Não sei o que lhe parece, mas me soa um bom investimento. Além disso, é uma forma de sair do discurso de “empresa socialmente responsável” e partir para a prática. Quer mais alinhamento entre propósito e ação do que isso?
Iniciativa que inspira mudança
É claro que é fácil falar em mudança, mas para empresas que se dedicam a orientar sua equipe e decidem investir parte do seu lucro para promover impactos reais, é possível. É um trabalho constante e à longo prazo, mas que entrega resultados gratificantes. E a gente vê exemplos bem interessantes por aí que comprovam que é possível, como é o caso da ThoughtWorks.
A líder em consultoria de desenvolvimento de software e tecnologia atua em mais de 15 países e, em cada um, se envolve em causas específicas da comunidade local. No Brasil, cria iniciativas em que os seus colaboradores dedicam parte de seu horário de trabalho para educar crianças de comunidades de baixa renda sobre tecnologia, capacitando-os para oportunidades que talvez eles não conheceriam de outra forma. Essa é uma das várias iniciativas paralelas da empresa, que tem um pilar norteador específico chamado de Justiça Social e Econômica.
E, se parecer difícil promover causas que envolvam partes externas à organização, a ThoughtWorks tem outros exemplos sobre como se envolver e dar amplitude à causas sociais.
A diversidade étnica e equidade de gênero são valores bastante fortes da empresa, que são refletidos na sua atividade e conseguem transpor um segmento que é conhecido por ser predominado por homens brancos cisgêneros, como é o setor tecnológico. Para mudar esse cenário, a empresa prioriza a contratação de pessoas negras, pessoas transgêneras e mulheres, e se dedica a proporcionar um ambiente em que todas as pessoas se sintam representadas e respeitadas. Para isso, criou os movimentos Enegrecer a Tecnologia e Transpondo Barreiras, programas esses que são – na minha opinião – inspiradores.
Com essas iniciativas, a ThoughtWorks colhe resultados que vão muito além do seu próprio lucro e de ser reconhecida como a empresa mais amada de 2018 (porque ela foi, veja aqui). É construção de reputação que chama? Como RP, não consigo parar de admirar essas ações – e como indivíduo de uma sociedade coletiva, também.
Leia também: Oportunidade, resistência, resiliência: enegrecendo a tecnologia e Por que é necessário fazer um recrutamento para pessoas negras?
Checklist para a ação
Como RP, instigue dentro da organização em que você atua as seguintes perguntas:
- Com quais iniciativas e causas os nossos públicos se identificam?
- Quais iniciativas e causas fazem sentido para a organização?
- Quais os objetivos a médio e longo prazo?
- Quais os esforços necessários para partir para a ação?
- Quais exemplos podem me inspirar/ajudar a começar?
Eu sei pouco sobre, mas com certeza essas perguntas nos ajudam a refletir sobre o poder da comunicação dentro de grandes empresas e sobre como vamos ajudá-las a se comunicarem – tendo em mente que, em um contexto de descrença, ação vale mais que palavras.
O cenário de desconfiança e tensão global é assustador e não há momento mais oportuno para mudanças. Mas, como a minha opinião é minha e não vale muita coisa, deixo aqui uma afirmação de Richard Edelman sobre os resultados do Trust Barometer 2018:
“O silêncio é um imposto sobre a verdade. A confiança só será recuperada quando a verdade voltar para o centro do palco. As instituições devem atender o apelo do público para fornecer informações precisas e oportunas e se juntarem ao debate público. Os meios de comunicação não podem fazê-lo sozinhos por causa de restrições políticas e financeiras. Toda instituição deve contribuir para a educação da população”.