Embora seja um jargão do mercado falar de comunicação integrada, não é todos os dias que surgem exemplos reais. Quando você fecha os olhos e pensa em cases integrados, que envolvem várias disciplinas e mídias, qual o primeiro exemplo que vem à cabeça?
Esse é o primeiro post de uma trilogia sobre comunicação integrada, onde vou apresentar alguns exemplos para mantê-los bem vivos nas nossas memórias. Vale lembrar sempre o formato de apresentação de um case:
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primeiro é apresentado um problema de comunicação;
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a seguir fala-se da solução para esse problema e
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por fim é demonstrado o resultado obtido através da aplicação dessa solução.
Esse é o formato que os principais eventos de comunicação do mundo, como o Festival de Cannes Lions, o mais antigo do mundo, recebem e julgam cases. Se você pretende ganhar prêmios, é legal já ir se acostumando com o formato, certo?
Exemplos de cases de comunicação integrada
Se lembrou de algum case e ele não está na lista abaixo, aproveite para mencionar nos comentários. Mas se não lembrou de nenhum, deixamos aqui os 4 primeiros cases essenciais para você relembrar ou conhecer. Confira!
Case 1: Dumb ways to die
O vídeo criado pela agência McCann Melbourne para a companhia Metro Trains, da Austrália, tem uma trilha simpática e fácil de pegar e carrega uma mensagem importante por trás dela. Como eu já contei aqui e aqui, o case “Formas estúpidas de morrer” foi eleito o melhor case de RP do mundo em 2013 e tinha um objetivo muito específico: conscientizar e reduzir, por meio da comunicação, o alto índice de acidentes que ocorriam nas linhas de metrô.
Com a identificação do problema, a solução proposta para minimizá-lo foi a criação de uma campanha utilizando música e personagens animados, com o intuito de transmitir a mensagem de teor sombrio de uma forma cativante, gerando vinculo com a população e alertando sobre a segurança pessoal e cuidados com a própria vida.
(Re)veja o clipe: https://www.youtube.com/watch?v=IyZhw_DOe2M
A campanha foi veiculada em todos os meios e canais possíveis, pois apenas o vídeo não completaria a missão de mudar o comportamento das pessoas.
Assim, estendeu-se também para os recursos tradicionais, como cartazes simpáticos dos personagens do vídeo, avisos nas plataformas de metrô, posters interativos e até a versão em karaokê da música, transmitidas nas telas de avisos das plataformas e tocada nos alto-falantes das estações. Veja algumas imagens:
A música fez tanto sucesso que virou top de downloads no ITunes em diversos países. Ela passou, inclusive, a ser tocada espontaneamente nas rádios de toda a Austrália à pedido de ouvintes.
Sem parar por aí, a campanha virou website, game, tumblr, livro infantil e se tornou o 3º maior viral de todos os tempos, até 2013. Com o impacto positivo gerado através das ações, resultados reais foram obtidos e benefícios duradouros foram gerados para a sociedade australiana, tornando o case merecedor do título de maior e mais bem executado prêmio máximo de Relações Públicas no Festival de Cannes de 2013.
O reconhecimento foi além: o case foi ganhador de mais 5 prêmios máximos, recebendo o Grand Prix em Comunicação Integrada, Digital, Rádio, Marketing Direto e Filme Publicitário.
Concluo a apresentação deste case com as mesmas palavras que disse aqui, em 2013, reforçando a certeza de que, se existe uma estratégia capaz de integrar todas as demais áreas, essa com certeza é RP. 🙂
Case 2: Small Business Saturday
Também já falei sobre este case bárbaro, nesse post de 2013. O Sábado dos Pequenos Negócios, ou Small Business Saturday, foi uma ação promovida pela American Express nos Estados Unidos, iniciada em 2010.
Realizado em sequência à Black Friday (o famoso dia de comprar em grandes lojas com descontos absurdos), o Small Business Saturday ocorreria com um mês de antecedência ao Natal, como uma campanha de marketing promocional visando a valorização dos pequenos negócios locais. Já que as grandes marcas tinham uma data só sua, uma sexta-feira por ano, a American Express acreditava que as pequenas carregavam o mesmo direito em ter um dia só seu.
A American Express mobilizou-se de forma admirável para concretização da data. Primeiro, forneceu aos donos de pequenos negócios um kit de ferramentas de comunicação, com o intuito de ajudá-los a vender mais. Selo para as lojas, bottom, posters, dicas e orientação para interação das marcas através das redes sociais faziam parte do kit de ferramentas fornecido aos lojistas, contando, inclusive, com um tutorial ensinando como produzir vídeos para o Youtube. Essa ação por si só foi uma estratégia de educação do microempresário, possibilitando que eles próprios montassem o plano de mídia de seus negócios.
Assista o vídeo de estudo do case: https://vimeo.com/45095446
Além do kit, os donos de pequenos negócios também foram instruídos sobre como criar páginas no Facebook, ofertas e promoções no Foursquare. Mais de 500.000 comerciantes locais foram beneficiados pela iniciativa, que gerou impacto positivo sobre a realidade de muitos deles. O resultado de vendas no final do de 2010 foi sem precedentes: alguns pequenos negócios venderam 166% a mais do que no ano anterior.
A American Express foi além e deu à iniciativa uma cara de Responsabilidade Social: mobilizou a imprensa e os consumidores a se juntarem ao movimento, incentivando a compra de presentes e produtos das datas festivas de final de ano nos estabelecimentos locais.
A campanha entrou no Top 10 dos trending topics do Twitter e até o Presidente Obama retuitou e divulgou o seu apoio à inciativa. O mais impressionante foi o resultado gerado para o público final, os pequenos comerciantes: 103 milhões de americanos compraram de pequenos negócios locais neste dia – e continuam comprando anualmente, pois a data virou dia oficial no calendário do país, com aprovação unânime do Senado.
Sob a perspectiva de profissional da comunicação, vejo esse caso como um incrível exemplo de integração entre marketing e comunicação.
Case 3: #Volvointerception
A Volvo encontrou uma maneira de gerar um impacto gigantesco durante o intervalo comercial mais caro do mundo sem gastar nenhum centavo. Como? Durante o Super Bowl nos Estados Unidos a montadora “sequestrou” a audiência com uma promoção via Twitter.
Quem usasse a hashtag #volvointerception no momento da exibição de um comercial de um carro dos concorrentes na TV concorreria a um Volvo zero quilômetro. Para participar, o internauta deveria mencionar também alguém do seu círculo que merecia ganhar um Volvo.
Com a ação, a marca conseguiu entrar na sessão de trending topics do dia e dominar as conversas sobre o setor automotivo. Assista o vídeo case da campanha: https://www.youtube.com/watch?v=xZe1rVgT0WE
Case 4: Vodafone red light app
Um aplicativo “secreto” criado na Turquia para mulheres poderem pedir ajuda quando estão sob ameaça de agressão física fez sucesso no festival de Cannes 2014. O nome do aplicativo não foi revelado para não reduzir o impacto do seu uso, já que potenciais agressores ao conhecê-lo poderiam baixar e, então, usar isso para coagir as suas vítimas.
Com todo esse cuidado, o Vodafone Red Light Application/Between Us foi desenvolvido com foco em mulheres que sofrem violência doméstica. Pela tecnologia, mensagens com pedido de ajuda com a localização do usuário são enviadas para três pessoas pré-definidas, bastando apenas que se balance o aparelho. A divulgação do aplicativo foi feita com cuidado: em etiquetas de roupas, em produtos exclusivamente femininos e em banheiros.
Assista o vídeo do case: https://www.youtube.com/watch?v=PyIvKpOJvrI&feature=youtu.be