Existe uma crença generalizada que Relações Públicas é coisa para grandes corporações, para empresas estabelecidas, ou então para os bares do tipo “Quitandinha”. Eis que chega Glória Pires, uma atriz consagrada na televisão e cinema brasileiros, e nos prova por A + B que, sim, pessoas públicas, artistas, atletas, políticos também precisam de um profissional de Relações Públicas para orientá-los não só nos eventos presenciais, nos discursos, nas entrevistas, mas também, e MUITO, nas redes sociais.
Para quem não acompanhou, o case foi assim.
Glória Pires estava na Globo durante a transmissão ao vivo do Oscar 2016, segundo a própria emissora, como âncora, ao lado de Maria Beltrão e Artur Xexéo. No decorrer do programa, sempre que era questionada sobre sua opinião a respeito dos concorrentes e ganhadores do Oscar, a atriz tinha pouco ou nada a comentar, além de atribuir alguns objetivos simples, como “bacana”, “interessante” e frases lacônicas como “não posso opinar”, “não assisti”.
O público que acompanhava o programa pela Globo não perdoou e em seguida começaram a bombar memes pela Internet da atriz e suas opiniões durante o evento, com tal repercussão que ficou em segundo lugar nos Trend Topics do Twitter, de acordo com matéria divulgada no site do jornal argentino espanhol* El País, que também afirma que “Glória zerou a Internet e ganhou mais menções que os atores premiados no Oscar 2016”. De uma maneira geral, os comentários resumem um sentimento de “vergonha”, a conhecida “vergonha alheia”.
Menos de 24 horas depois, Glória Pires, sabedora da repercussão, dos memes, dos comentários com críticas e com apoios, postou um vídeo no Facebook com o declarado objetivo de “agradecer as manifestações de apoio como a hashtag #somostodosgloriapires” mas que, na prática, demonstra ter sido para justificar a sua atuação. Entretanto, tudo indica que ela não teve uma orientação profissional de como fazê-lo (veja o vídeo).
Feito de maneira artesanal e com aparência informal demais, a atriz agradece o apoio de uma parte dos internautas, e em sequência diz que compareceu ao programa em função de “um convite de amigos e pessoas que trabalham comigo”. Afirma ainda, o óbvio “Eu não sou comentarista, sou uma atriz” como forma de justificar a falta de eloquência nas opiniões que externou. E ainda complementou: “Eu estava dando opinião como se estivesse na minha casa com meus amigos.”
Quando se trata de pessoa pública, é importante lembrar que embora “continue sendo gente” e, portanto, tendo uma vida regular e vivendo situações corriqueiras, ela, muitas vezes, é um exemplo, um paradigma para outras pessoas. Em termos de Brasil, isso é ainda mais forte, uma vez que os atores de novela mais conhecidos, jogadores de futebol, cantores sertanejos tornam-se ícones nacionais para milhões de brasileiros que estão carentes de pessoas que sejam merecedoras de admiração e de serem seguidas.
Na tentativa de administrar a crise, a falta de orientação para a atriz redundou em um vídeo que não mostra humildade, reconhecimento das próprias limitações, um mea culpa que a gente tanto vê que falta neste mundo onde todos erram e ninguém assume. Ela quis parecer “gente como a gente” mas deu a impressão de não querer assumir sua parcela de culpa. Afinal, quem está na televisão, ao vivo, durante a transmissão de um programa internacional também sendo transmitindo ao vivo, não está na sala de casa com amigos. Está trabalhando, está transmitindo informações, conhecimento, a própria imagem e reputação.
E, se por alguma razão, a pessoa não tem condições ou não se sente em condições para comentar (por não ser comentarista e sim atriz), por não ter assistido aos filmes, por não saber como analisar, então, o ideal teria sido não aceitar o convite dos amigos e até mesmo indicar alguém que entendesse ter mais competência para essa função. Mas isso teria sido prevenção de crise, um passo antes da gestão da crise, que seria como se manifestar nas redes sociais.
Talvez sirva como aprendizado para todas as pessoas públicas da necessidade de um profissional para orientá-los, assessorá-los. E não estamos falando de um agente ou assessor de imprensa, mas de um relações públicas experiente, que sabe o quanto o relacionamento com os públicos é importante e tem potencial para construir e destruir a imagem e a reputação de uma empresa ou de uma pessoa pública.
Como você, como profissional da área ou como pessoa pública, teria gerido essa crise?
* Muito obrigada por me apontar o engano, Luisa Belazi!
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